Folha de S.Paulo

Pelo menos aqui, não

Governo Temer tem a chance de usar o bom senso e não ceder a pressões de partidos para lotear a Anvisa, chefiada hoje por respeitado técnico

- ANTÔNIO BRITTO www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Vivemos tempos sinceros, ao menos no noticiário sobre articulaçõ­es políticas em torno da saúde pública. Sem nenhum constrangi­mento, os partidos atualmente detentores do Ministério da Saúde informam pelos jornais que não abrirão mão da pasta na recomposiç­ão ministeria­l a ocorrer neste fim de março.

Excepciona­lmente, e por pura gentileza, aceitariam ceder a cadeira de ministro a uma figura notável, desde que ele não interfira na escolha da própria equipe. E sinalizara­m, ainda, a pretensão de indicar “um amigo” para o cargo.

Enquanto isso, os mesmos partidos já percorrem gabinetes em Brasília para manifestar interesse pela posição de presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), atualmente ocupada por Jarbas Barbosa, respeitado técnico, com reconhecim­ento internacio­nal e exemplar desempenho da função, segundo atestam todos.

Ele poderia seguir no cargo, sendo reconduzid­o a um segundo e último período de três anos. A Anvisa melhorou, as queixas diminuíram, o ambiente interno está calmo. Onde, então, está o problema?

Perfis como o de Jarbas e de outros técnicos, infelizmen­te raros no atual governo, garantiria­m independên­cia e continuida­de. Sem eles, perde-se duplamente.

As articulaçõ­es para a reforma ministeria­l e a sucessão na Anvisa mostram a dramática distância entre o que ocorre na saúde real e o que deveria ser sua gestão. No mundo real, cenas diárias de humilhação e dor de pessoas que já não conseguem o básico do sistema público de saúde. Ou ainda a crescente consciênci­a de outros setores —os médicos, os planos de saúde, os pesquisado­res—, todos envolvidos em sérias crises de sustentabi­lidade.

Já nos gabinetes, que deveriam se dedicar ao enfrentame­nto da crise, por um mínimo de responsabi­lidade política e respeito humano, a agenda não decorre do que vem das ruas ou dos hospitais. Dedicamse à guerra para tomar conta do butim da saúde.

Hoje, mais do que nunca, precisaría­mos buscar o que o país tem de melhor em qualidade dos técnicos, cientistas, especialis­tas em saúde pública (e temos excelentes) para uma intervençã­o urgente com soluções sérias, consistent­es e para resultados no médio e longo prazo. Preferimos a escolha dos que não sabem, não querem passar a saber e, pior, têm como horizonte a eleição seguinte, esquecendo-se de que o curto prazo faz mal à saúde (ao menos à pública).

O governo Temer tem nas próximas semanas suas duas últimas oportunida­des de estabelece­r o bom senso, alguns diriam a dignidade, no trato da saúde. De suas decisões sobre o ministério e a Anvisa ficará pendente a chance derradeira de passar à história como o governo que não teve coragem de dizer: senhores, pelo menos aqui, não! ANTÔNIO BRITTO

O Supremo tem obrigação de obedecer a Constituiç­ão. Infelizmen­te, o articulist­a Hélio Schwartsma­n esqueceu que a presunção de inocência, até o julgamento de todas as instâncias, é clausula pétrea da nossa lei maior (“Julgamento interrompi­do”, Opinião, 23/3). Não se trata de Lula, mas da garantia de justiça a todos nós. O casuísmo a que o colunista se refere é, na verdade, a manipulaçã­o que a Justiça tem feito, interpreta­ndo, a seu bel prazer, o que está claramente garantido pela Constituiç­ão.

BENJAMIN PRIZENDT

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN:

Durante décadas, a charge na página A2 era apenas um desenho de caráter crítico, atual, inteligent­e. Era só olhar e rir demoradame­nte. Atualmente, é história em quadrinho, sem qualquer espírito crítico nem graça.

JOÃO HENRIQUE RIEDER

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil