Folha de S.Paulo

A caravana de Lula teve escolta policial

- ELIO GASPARI

O Supremo Tribunal Federal julga, mas não julga, decide, mas não decide. Seus ministros trabalham, mas precisam sair cedo, e às vezes têm mais o que fazer.

Os doutores falam uma língua que ninguém entende (salvo quando se insultam) e alguns deles transforma­ram as reuniões plenárias num cansativo BBB.

O Tribunal vem cavando seu descrédito por excesso de esperteza. É para deixar Lula solto? Devem-se soltar outros presos? Basta decidir e botar a cara na vitrine. Não há razão para embrulhar o distinto público.

Estava errada a informação de que se passaram 37 dias entre o atentado contra Carlos Lacerda, onde morreu o major Rubens Vaz, e a prisão de Climério de Almeida, o contratado­r do crime.

Passaram-se apenas 12 dias. O atentado ocorreu no dia 5 de agosto de 1954 e Climério foi capturado no dia 17.

Amanhã completam-se 12 dias da execução de Marielle Franco. NOS PRIMEIROS dias de sua caravana um pixuleco encarcerad­o. Em Santa Maria, reuniram-se manifestan­tes para hostilizá-lo. Para chegar a São Borja, com escolta policial, teve que tomar uma estrada de terra porque a rodovia estava bloqueada. Em São Vicente do Sul, um grafite dizia “Lula ladrão”.

O percurso do ex-presidente foi semelhante ao que ele fez em 1994, quando disputou a Presidênci­a contra Fernando Henrique Cardoso e o Real. Ele atravessou o Rio Grande do Sul num ônibus sem que houvesse um só incidente. Tinha a proteção discreta e suave de dois faz-tudo petistas. Um chamava-se Freud. O outro, Espinoza, tinha 2,02 metros e 112 quilos. Lula chegava com fazendeiro­s ou empresário­s, ia para a praça e discursava. Em Rosário do Sul, desceu do palanque para entrevista­r populares. (Se o público não esquentava dizia que lugar de político ladrão é a cadeia. Se fosse pouco, recorria a um infalível pedido de confisco dos bens do ex-presidente Fernando Collor.) Esse era um tempo em que ele ainda falava “cidadões” (em Livramento) e o PT pedia notas fiscais de todas as suas despesas.

Mudaram Lula, o Brasil e seus adversário­s. O comissaria­do diz que os manifestan­tes hostis são uma “milícia fascista”, mas a partir de um certo momento a caravana foi protegida por uma patrulha do o “exército do Stédile”, referindos­e a João Pedro, donatário do movimento dos sem-terra desde o século passado. É de justiça lembrarse que em julho de 2003 um grupo de 15 militantes do PSTU foi protestar diante do Sindicato dos Metalúrgic­os de São Paulo contra uma visita do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e a reforma da Previdênci­a de Lula. Apanharam, e o técnico judiciário Antonio Carlos Correia teve o nariz quebrado. Segundo ele, foram “pitbulls petistas”. Palocci está na cadeia e o PT lutou contra a reforma de Temer.

Lula e seus adversário­s mudaram para pior. O Brasil, quem sabe.

A Associação dos Magistrado­s Brasileiro­s patrocinar­á duas pesquisas. Uma, coordenada pelo sociólogo Antonio Lavareda, procurará saber as opiniões dos cidadãos sobre o Judiciário.

A outra, dirigida pelo professor Luiz Werneck Viana, revisitará as descoberta­s feitas há mais de duas décadas, quando ele organizou o trabalho “Corpo e Alma da Magistratu­ra Brasileira”. Publicada em 1997, a pesquisa baseou-se na análise de 4.000 questionár­ios respondido­s por juízes. Quem o leu não se surpreende­u com o aparecimen­to de figuras como Sergio Moro e Marcelo Bretas, bem como os três desembarga­dores do TRF-4.

“Corpo e Alma” ensinou que surgira uma nova elite na magistratu­ra. Em 1970, só 20% dos juízes tinham pais com formação universitá­ria. Ao tempo da pesquisa eles eram 40%. Mais da metade eram filhos de funcionári­os públicos ou de empresas estatais.

Anos depois, Werneck previu: “O Judiciário brasileiro está mudando, de corrupção envolvendo essa geração de servidores. Eles são uma espécie de encarnação do pensamento e da conduta democrátic­oliberais.”

Natasha ouviu a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, dizer: “Estamos perdendo na narrativa e na ocupação de espaço” e decidiu conceder-lhe mais uma de suas bolsas de estudo.

A comissária quis dizer que o PT perdeu a capacidade de se explicar e de levar gente para a rua. Tirar gente de casa para defender algo em que não acredita é coisa difícil.

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