Familiares de Matheus da Silva Duarte Oliveira, 19, que não quiseram se identificar,
DO RIO
Uma operação da Polícia Militaraofimdeumbailefunk na Rocinha na manhã deste sábado (24) terminou com ao menos seis mortos, corpos depositados numa passarela e conflito de informações entre órgãos públicos sobre o número de vítimas da chacina.
A ação mais violenta da polícia desde o início da intervenção federal na segurança pública do estado ocorreu por volta das 5h30 na localidade conhecida como Roupa Suja.
Pela manhã, a PM confirmou sete mortes em suposto confronto com o Batalhão de Choque. Familiares de vítimas afirmaram, contudo, que agentes atiraram a esmo contra o grupo que saía do baile, embora reconheçam que havia criminosos entre eles. Ao menos uma das vítimas foi baleada nas costas.
A Secretaria Municipal de Saúde confirmou pela manhã a chegada no Hospital Miguel Couto de sete mortos por armas de fogo da Rocinha.
Ao fim da tarde, contudo, a PM declarou que foram, na verdade, seis mortes em confronto —embora o hospital confirme a chegada de sete corpos da favela. Atribuiu o erro ao fato de as informações iniciais terem sido passadas durante a ação policial.
No início da tarde, moradores deixaram dois corpos na passarela sobre a estrada Lagoa-Barra—projetadapeloarquiteto Oscar Niemeyer e símbolo das obras inacabadas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na favela. A PolíciaCivilvaiinvestigararelação desses dois casos com o conflito da PM.
O Batalhão de Choque afirma que foram apreendidos um fuzil, seis pistolas e duas granadas —pela manhã, a PM informara uma pistola a mais.
Procurado para comentar a ação, o Gabinete de IntervençãoFederalnãorespondeuaté a conclusão desta edição.
A ação ocorreu dois dias após a morte de um PM na Rocinha. Desde setembro, a favela vem sendo palco de sucessivas operações, inclusive com a participação do Exérsar. cito, em razão dos confrontos de quadrilhas de traficantes. Nesse período, 48 pessoas foram mortas pela polícia em supostos confrontos. FAMILIARES negaram que o rapaz fosse envolvido com a quadrilha da região. Eles mostraram uma foto do jovem com uma perfuração de bala nas costas, indicando como prova de que ele fugia quando foi baleado.
A mãe do rapaz, que pediu para não ter o nome divulgado, disse que Oliveira fazia parte de um grupo de valsa na Rocinha. Ele participou de uma festa na sexta (23), foi para o baile funk, e se mudaria paracasadamãe,nafavelade Antares (zona oeste), por um período —ele vivia com a avó.
“Estavavindoparalevarele para minha casa para esperar essa poeira da Rocinha pas-
As mortes na Rocinha ocorrem pouco mais de um mês após o início da intervenção federal na segurança pública do estado. A medida, inédita, foi anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro, com o apoio do governadorLuizFernandoPezão, também do MDB.
Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe dos forças de segurança do estado.
O Rio de Janeiro passa por uma grave crise política e econômica, com reflexos diretos na segurança pública. Desde junho de 2016, o estado está em situação de calamidade pública e conta com o auxílio dasForçasArmadasdesdesetembro do ano passado.
Somente no ano passado 134 policiais militares foram assassinadosnoestado—neste ano já são 31. Policiais, porém, também estão matando mais. Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia.