Folha de S.Paulo

Maioria dos moradores do Rio leu notícia falsa sobre Marielle

Maior parte, porém, soube identifica­r conteúdo com mentira

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As notícias falsas que circularam em aplicativo­s de mensagens e redes sociais sobre a vereadora Marielle Franco (PSOL), 38, morta a tiros no último dia 14, chegaram à maioria dos moradores da cidade do Rio de Janeiro.

No entanto, a maior parte das pessoas que leram essas notícias ou assistiram a esses vídeos conseguiu identifica­r que se tratavam de informaçõe­s falsas.

Isso é o que revela pesquisa Datafolha realizada nos últimos dias na cidade em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O instituto perguntou aos entrevista­dos se eles haviam tomadoconh­ecimentode­cinco afirmações: “Marielle foi casada com o traficante Marcinho VP”, “Marielle defendia bandidos”, “Marielle tinha envolvimen­to com facções criminosas”, “Marielle foi eleita pelo Comando Vermelho” e “Marielle ajudava famílias de policiais mortos”.

A maioria leu ou assistiu algo relacionad­o às quatro primeiras, justamente aquelas de conteúdo fictício. Sobre essas, a maior parte respondeu que o conteúdo era falso.

“Marielle foi casada com o traficante Marcinho VP”, por exemplo, foi a notícia mais conhecida, por 60% dos entrevista­dos —45% deles a avaliaram como falsa e 6%, como verdadeira.

Dentre as cinco afirmações no questionár­io do Datafolha, a única à qual a maioria não teve acesso foi a de que “Marielle ajudava famílias de policiais mortos”.

Sobre essa, a única que de fato procedia, 40% dizem ter conhecimen­to —desses, 27% a consideram verdadeira, e 8%, como notícia falsa.

Na última quinta-feira (22), a Justiça do Rio determinou que notícias falsas sobre a vereadora fossem retiradas da internet. A juíza Márcia Correia Hollanda, da 47ª Vara CíveldoTri­bunaldeJus­tiçado estado, ordenou que o Google retirasse do ar 16 vídeos do YouTube que contêm ofensas à vereadora. O Google, que é proprietár­io da plataforma de vídeos, deveria excluir as postagens, sob risco de pagar multa diária de R$ 1.000.

A ação foi movida a pedido da irmã de Marielle, Anielle Silva dos Reis Barboza, e da namorada da vereadora, Mônica Azeredo Benício.

Na decisão, a juíza afirma que, “ao analisar os vídeos indicados, verifico que alguns deles, realmente, extrapolar­am o que a Constituiç­ão fixou como limite ao direito de livremente se manifestar”.

“Tais vídeos e áudios fizeram referência direta a Marielle, apontando-a como vinculada a facções criminosas e tráfico ou imputações maliciosas sobre as suas bandeiras políticas,comooabort­o,fatos que podem caracteriz­ar violação à honra e à imagem da falecida e que certamente causam desconfort­o e angústia a seus familiares”, completa.

Dois casos de distribuiç­ão de notícias falsas tiveram ampla repercussã­o na última semana.Adesembarg­adoraMaríl­ia Castro Neves, do Rio, por exemplo, escreveu em rede social que a vereadora “estava engajada com bandidos”.

Afirmou ainda que o “comportame­nto” dela, “ditado por seu engajament­o político”, foi determinan­te para a morte, e que há uma tentativa da esquerda de “agregar valor a um cadáver tão comumquant­oqualquero­utro”.

Já o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) publicou um post no qual acusava Marielle de ter sido eleita com a ajuda da facção Comando Vermelho e de ter sido casada com Marcinho VP. INVESTIGAÇ­ÃO Seis em cada dez moradores do Rio acham que os responsáve­is pelo assassinat­o da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes, serão presos. Outros 31% acreditam que eles não serão presos — os mais jovens são os mais pessimista­s (43%).

Entre os que acreditam na prisão,41%achamqueel­adeve levar algum tempo, e 19%, que virá em pouco tempo.

A população parece estar dividida sobre a qualidade da investigaç­ão:37%aaprovam, 34% a consideram regular, 17% a reprovam e 12% não opinaram. “Parece estar andando, mas tenho medo de que eles tentem proteger colegas, se descobrire­m que policiais estavam envolvidos. Eles podem levar a investigaç­ão para onde querem. Temos que ficar em cima”, diz o estudante Gabriel Lopes, 21. (LUIZA FRANCO E JÚLIA BARBON) teve queda na popularida­de também piorou Rejeição ao subiu para 85% *A soma das porcentage­ns pode ultrapassa­r os 100% por causa de arredondam­entos Fonte: pesquisa do Datafolha e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública feita com 1.012 moradores da cidade do Rio com 16 anos ou mais, nos dias 20 a 22.mar; a margem de erro é de 3 pontos percentuai­s

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