Mais roqueira. O telão, que exibia imagens com interferências gráficas, mostrava uma banda com domínio do palco.
Se o primeiro dia de Lollapalooza foi marcado por uma sonoridade adolescente, neste sábado (24) o rock adulto, mais elaborado e com maiores pretensões artísticas, foi o destaque do festival, graças aos shows de David Byrne, The National e Pearl Jam.
A banda de Seattle liderada por Eddie Vedder mostrou que ainda consegue ser relevante no cenário roqueiro atual, com um pé na velha escola, de guitarras raivosa e letras contundentes, e outro pé na fúria adolescente, como se fosse um fruto da urgência deste milênio. Tudo regido pelo carisma e a voz rouca de Vedder, que fez a plateia urrar a cada close no telão.
A banda abriu com “Wash” e logo começou a desfilar músicas antigas. Depois de pedir às pessoas na plateia, em português, que acenassem porque suas famílias estavam vendo todos pela TV, Vedder elogiou campanha nos EUA pelo desarmamento e dedicou a canção seguinte à causa: “Can’t Deny Me”. Em seguida, o primeiro pandemônio da noite, “Even Flow”.
Ainda rolou um “parabéns pra você” dedicado a Perry Farrell, criador do Lollapalooza, seguido por “Mountain Song”, do Jane’s Addiction, uma das bandas de Farrell.
O Pearl Jam atinge 28 anos de estrada mantendo intacta uma aura de integridade. É a bandaquenãofazconcessões comerciais nem apela a pirotecnias, que ganharia facilmente qualquer plateia.
Já David Byrne, a cabeça à frente de uma das bandas mais influentes dos anos 1980, os Talking Heads, fez uma apresentação teatral, toda coreografada e visualmente elegante.
Acompanhado por 11 músicos, que se alternaram em inúmeros instrumentos (inclusive cuíca e berimbau) e ainda dançaram, o escocês radicado nos EUA mostrou um repertório de 13 canções, sendo sete de sua ex-banda e quatro de seu disco solo mais recente, “American Utopia”.
Suamisturaderock,ritmos africanos e brasileiros, funk e dance music fez a plateia suingar em canções como “I Zimbra”, “Toe Jam” e “Burning Down the House”.
Logo depois de Byrne se despedir, o quinteto americano The National subiu ao palco principal para uma apresentação sombria e vigorosa, puxada pelas canções do sétimo e mais recente álbum da banda, “Sleep Well Beast”.
Em sua terceira passagem no país —tocou em 2008 e 2011— abriu ao som de “Most of The Time”, de Bob Dylan.
Em seguida, cantou “Nobody Else Will Be There” e “The System Only Dreams in Total Darkness”. A voz de barítono de Matt Berninger guia o pós-punk do grupo. É como se Leonard Cohen tivesse sido vocalista do New Order, ainda que com uma pegada PARA TEENS A grande exceção ao rock maduro que deu o tom do segundo dia de Lollapalooza foi o Imagine Dragons. O quarteto americano, que faz um eletropop com pitadas de rock, arrastou uma multidão adolescente.
O show privilegiou as músicas do disco mais recente, o dançante “Evolve” (2017), e incluiu sucessos mais antigos, como “Radioactive”. Após cantar “Believe”, o vocalistaDanReynoldstambém fez discurso antiarmas —antes de Eddie Vedder.
Antes de apresentar “It’s Time”, o cantor discursou a favor da diversidade. “Por hoje, que a gente se ame e espalhe paz, sem ligar para política, religião e dinheiro. Hoje a gente respira o mesmo ar e celebra a diversidade.”
Durante a tarde, o público do Lolla —bem mais numeroso do que o de sexta— viu ainda o cantor e baterista americano Anderson .Paak esbanjar alto-astral em sua primeira passagem pelo Brasil.
Antes dele, o quarteto islandês Kaleo misturou rock, country e blues em roupagem moderna. Com camisa regata cavada, JJ Julius Son, líder da banda, fez o público cantar músicas com destaque para “Way Down We Go” e “Hot Blood”. (AMANDA NOGUEIRA, DAIGO OLIVA, MARCO AURÉLIO CANÔNICO, THIAGO NEY, THALES DE MENEZES E VICTORIA AZEVEDO)