Folha de S.Paulo

Seleção brasileira sofre contra adversário­s que adotam sistema com linha de cinco defensores

-

TITE CONVERSOU longamente com Josep Guardiola, no final do ano passado, e foi pessoalmen­te ao estádio Ettihad, mês passado, assistir a Manchester City x Chelsea. Sua fixação é entender como quebrar as linhas de cinco defensores e quatro meio-campistas, como o Chelsea ganhou a Premier League ano passado.

A seleção sofre contra esse sistema. Depois do empate contra a Inglaterra desfalcada, em novembro, a seleção sofreu de novo contra a Rússia, num 5-4-1. Os ingleses ainda deixavam Rashford mais próximo ao atacante Vardy, num 5-3-2.

Contra a Rússia, a quebra se deu num contra-ataque com Douglas Costa invertendo a jogada para Willian, gol perdido por Coutinho. Depois, no cruzamento de Willian, gol de Miranda e no pênalti convertido por Coutinho. Abrir mesmo, só depois do primeiro gol. “O passe diagonal, nas costas do segundo homem, abre o espaço. É preciso paciência para desdentar”, é como Tite define. É como se fosse uma linha de cinco dentes. É preciso quebrar um deles.

Como o Brasil se mostrou incapaz de quebrar a dentadura inglesa e sofreu contra a russa, é preocupant­e pensar em enfrentar Costa Rica e Sérvia, que devem jogar no mesmo sistema que, como uma sanfona, abre-se num 3-4-3 para atacar e fecha-se como um 5-4-1 na defesa.

Mais preocupado do que com desdentar as linhas de cinco homens, Tite só está com Renato Augusto. Já era perceptíve­l sua queda de rendimento no final do ano passado. Na conversa com Guardiola, Tite questionou sobre a hipótese de usar Fernandinh­o como meia. Pode acontecer no início da partida contra a Alemanha.

O princípio não é inverter o triângulo do meio de campo. Não é ter três volantes, mas manter o desenho com Casemiro atrás de quatro armadores. A pergunta é se Fernandinh­o na função que foi de Phillippe Coutinho, em Moscou, é diminuir a capacidade de drible. Mas seu passe é vertical e surpreende­nte. Mesmo sem ser um ritmista —expressão criada por Tite— Fernandinh­o inventa lançamento­s e deixa colegas na cara do gol, no Manchester City.

O que não pode acontecer na Copa é esbarrar nos muros defensivos. Tocar de pé em pé, sem achar o espaço para quebrar os sistemas.

É um erro avaliar que o Brasil sofreu no teste russo, porque Neymar está machucado. Contra a servir como artimanha para atrair o adversário para um lado e inverter a bola para o outro. O objetivo é deixar o atacante no um contra um com o zagueiro.

Contra marcações dobradas, o drible vai existir, mas para dar centro dependerá de um momento de inspiração. No mano a mano, o craque levará vantagem nove vezes em dez tentativas.

Repetir esse tipo de jogada até chegar ao gol foi o que faltou contra a Inglaterra. Contra os russos, o Brasil demorou, mas quebrou-lhe os dentes.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil