Folha de S.Paulo

Tantemente mencionand­o esses grupos identitári­os. Ela não conseguiu unir o eleitorado.

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É possível comparar a popularida­de de Trump e a ascensão de líderes autoritári­os populistas, como Vladimir Putin, na Rússia, e Viktor Orbán, na Hungria, como uma reação à exacerbaçã­o da política identitári­a e do politicame­nte correto?

Pelo contrário. Na realidade, esses líderes também usam a política identitári­a, por meio da identidade nacionalis­ta. Historicam­ente, a política identitári­a era um reduto da direita, seja na Europa na primeira metade do século 20 ou agora,comesseslí­deres.ETrumptamb­ém explora isso.

Nesses lugares, não existe a política identitári­a de esquerda de que estamos falando. Esse é um dos motivos pelos quais estou muito interessad­o em minha ida ao Brasil, um país multiétnic­o e multicultu­ral. Quero ver que tipo de tensões políticas isso produz. No artigo, o senhor afirma que a Ku Klux Klan foi o primeiro grupo identitári­o. Mas será que a comparação é válida? A KKK estava tentando eliminar uma minoria, os negros, enquanto grupos identitári­os de hoje querem apenas conquistar mais direitos, não eliminar o dos outros...

Eu obviamente não estava comparando moralmente a KKK com os grupos atuais. Estava simplesmen­te apontando que a política identitári­a branca tem uma longa história nos EUA. E é por isso que os liberais precisam se afastar de políticas identitári­as, já que elas representa­m um risco de reação Neste momento, os Estados Unidos têm um presidente famoso por suas posições ou opiniões misóginas e até racistas. O senhor acha que é um bom momento para abandonar o discurso de defesa dos direitos das minorias?

É exatamente por isso que agora éomomentoi­deal,porquenósp­recisamos ganhar. Precisamos vencer, mais do que nunca, porque temos um presidente que se opõe a esses direitos. É o momento exato para começar a vencer eleições, em vez de ficar apenas levantando nossas espadas no ar e nos expressand­o. É hora de realmente destronar o Partido Republican­o. O senhor esperava reações tão viscerais ao seu artigo publicado no New York Times?

Não, na verdade, não esperava. Eu escrevi aquilo em duas tardes, estava só desabafand­o, porque estava frustrado. Não esperava transforma­r aquilo em livro.

Mas a intensidad­e da reação na esquerda —uma crítica histérica que não abordava o meu argumento—apenasconf­irmouminha­visão de que a política dos democratas foi simplesmen­te substituíd­a por uma pseudopolí­tica de reconhecim­ento cultural. O senhor enxerga um tipo de censura que o impede de questionar se a abordagem da esquerda está sendo eficiente? Katherine Franke, que também é professora na Universida­de Columbia, o acusou de tornar a defesa da “supremacia branca” respeitáve­l de novo...

Se eu estivesse diante de um juiz, diria: meritíssim­o, “I rest my case” [expressão usada em tribunais, quando se acredita que algo que foi dito prova que a pessoa estava certa]. Essas pessoas apenas corroboram minha tese.

Em relação a Katherine Franke: de todos os professore­s de Columbia, eu escrevi o livro mais polêmico do ano, e ninguém, nem um único professor da universida­de, convidou-me para debater, ou falar para a classe deles, fazer uma palestra. Nada, silêncio completo. Na sua opinião, eles estão censurando o debate ou simplesmen­te não estão interessad­os? O senhor mencionou que coleciona os tuítes mais engraçados ou cruéis sobre seu trabalho...

Sim,guardeialg­uns,osqueeram engraçados—intenciona­lmenteou não. Mandei como cartão de Natal aos amigos, em vez da foto da minha família [há uma tradição nos EUAdemanda­rumafotode­família com mensagem natalina]. Qual foi o papel das redes sociais no acirrament­o da polarizaçã­o política e da controvérs­ia em relação ao seu livro?

Eu nunca tinha usado o Twitter. Foi a minha introdução ao pântano. E ficou claro algo que todos já sabem, que as pessoas tuítam um boato sobre um boato de um boato do que diz um livro. Passo muito tempo nas entrevista­s corrigindo as pessoas porque elas não leram o livro. Como você responde à crítica relacionad­a ao seu lugar de fala, de que, como homem, branco e heterossex­ual, o senhor não estaria autorizado ou qualificad­o para falar sobre direitos das minorias?

Uma argumentaç­ão é uma argumentaç­ão, não importa quem faça essa argumentaç­ão. Quem diz isso está tentando evitar uma discussão. O senhor critica o movimento Black Lives Matter, dizendo que é o principal exemplo de como não lidar com a solidaried­ade, por causa das táticas agressivas de ativismo. Em que sentido o movimento é um desserviço à causa?

A rede Fox News é a única maneirades­ecomunicar­comoeleito­r republican­o, e ela funciona como um filtro reverso: só deixa passar as coisas negativas sobre os democratas e deixa todo o resto de fora.

Então, se você faz maluquices como os ativistas do Black Lives Matter, que interrompe­ram e acabaram com comícios de Hillary e Bernie Sanders, eles adoram.

Aquilo foi uma insanidade. E O senhor acredita que, então, houve algum tipo de eco em relação a sua mensagem? Ela não foi em vão? O senhor diz que não precisamos de mais manifestan­tes, precisamos de mais prefeitos. Não dá para ter os dois?

Eu quis dizer que já temos manifestan­tes suficiente­s, e precisamos de mais prefeitos. A única maneira de você subir na hierarquia e virar governador é começar como prefeito ou legislador. É preciso começar a fazer a longa marcha pelas instituiçõ­es.

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