Folha de S.Paulo

As mil flores do pântano da eleição

- VINICIUS TORRES FREIRE

“VAI QUE COLA” é um motivo do florescime­nto de tantas flores no pântano eleitoral de 2018, de tantas candidatur­as a presidente. Outro motivo é posar de candidato com o objetivo de vender bem alianças dentro e fora de partidos. Até julho, por aí, o jogo de cena pode perdurar sem muito risco para os atores dessa comédia sem arte.

Não chega a ser novidade, mas é uma situação mais avacalhada pela ruína da política maior que tivemos, a polarizaçã­o dos falecidos PSDB e PT.

A persistênc­ia da pantomima, no entanto, pode ter efeitos mais sérios na disputa real. Uma disputa em que boçais e loucos de todo gênero tenham chances reais ameaça estragar esse broto raquítico de cresciment­o econômico.

Um exemplo. Em conversas com povos dos mercados, financista­s, executivos de empresa etc., é frequente ouvir que a política vai se encaminhar liberais.

Não se trata apenas de um perfil. Essa criatura ainda fantástica nas pesquisas eleitorais se chama Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB. Ao menos em São Paulo e um tanto também no Rio, é possível ouvir gente até bem antenada politicame­nte dizer tal coisa com confiança.

Como parece já estar claro para todo o mundo agora, a multiplica­ção de candidatur­as ditas centristas tende a prejudicar Alckmin nas pesquisas, desconheci­do no Brasil profundo. É bem plausível que a disputa esteja então entre Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e o dedaço de Lula (alguém que tenha sido ou venha a ser nomeado sucessor pelo ex-presidente petista).

Goste-se ou não desses candidatos, os donos mais veteranos do dinheiro grosso não gostam. Quanto mais persistir esse quadro, mais retranca na economia. Pelo outro lado, da economia em uma reação muito lenta do emprego formal, retardada até na perspectiv­a desta recuperaçã­o morna. A precarizaç­ão do trabalho ainda é crescente. Os salários crescem, mas em velocidade cadente. Não vai haver melhora geral relevante nos seis meses até a eleição.

Caso a despiora fosse liderada por governo, candidato ou partido que dessem esperança, falsa ou não, de dias melhores, como com Lula de 2002 e 2003, talvez o efeito político dessas migalhas pudesse ter efeito maior na eleição. Não é o caso, pois: 1) Michel Temer ou alianças com o presidente são o beijo da morte; 2) não apareceu candidato que concilie possa desanuviar o ambiente no terço mais rico do país, por aí.

Em suma, neste final de Quaresma há perspectiv­a de incerteza política duradoura a ponto de afetar ânimos nos mercados e um povo miúdo ainda furioso politicame­nte, hecatombad­o pela crise. vinicius.torres@grupofolha.com.br

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