Folha de S.Paulo

Economia na balança

A despeito de obstáculos e incertezas, inclusive as eleitorais, quadro ainda se mostra propício para uma retomada mais rápida

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A recuperaçã­o econômica prossegue, mas ainda há incertezas sobre seu ritmo. O otimismo vinha crescendo nos últimos meses, e as projeções para a alta do Produto Interno Bruto neste 2018 se aproximara­m de 3%. Entretanto os primeiros indicadore­s do ano decepciona­ram, e tal desempenho já é colocado novamente em dúvida.

Com fraqueza na produção industrial e no setor de serviços, o índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,56% em janeiro, na comparação com dezembro.

Desde o fundo do poço da recessão, em dezembro de 2016, o indicador mostra um avanço de apenas 3,9% —depois de uma queda de 10,6% ao longo de três anos.

Embora a lentidão ainda não possa ser tomada como tendência para os próximos meses, cabe notar obstáculos à retomada.

Um dos principais está no mercado de trabalho. Embora o poder de compra das famílias tenha aumentado, favorecido pela inflação baixa, a geração de empregos é modesta e ancorada em vagas sem carteira assinada. A informalid­ade dificulta o acesso ao crédito e a expansão do consumo.

Os juros bancários, ademais, permanecem exorbitant­es —ainda que o corte da taxa Selic, do BC, ao menor patamar da história (6,5% ao ano) já proporcion­e efeitos positivos. O financiame­nto empresaria­l, por exemplo, começa a dar sinais de vida, depois de quase quatro anos de paralisia.

Setores dependente­s de amparo estatal ensaiam mudar de comportame­nto. É o caso da agricultur­a, que já consegue recursos a custos menores do que os das tradiciona­is modalidade­s subsidiada­s pelo governo, algo inédito.

A busca de taxas mais civilizada­s, porém, depende de uma agenda cujo progresso não está assegurado. Entre as providênci­as principais está o projeto que visa deslanchar o cadastro positivo —de modo a permitir a identifica­ção de bons devedores e a competição por eles entre os bancos.

A despeito dos empecilhos, persistem boas razões para crer num desempenho econômico mais favorável neste ano. O controle da inflação parece consolidad­o; são consideráv­eis as chances de que os juros do BC possam ficar em patamares baixos (para os padrões brasileiro­s) por bastante tempo.

O cresciment­o da arrecadaçã­o de impostos melhorou os resultados das contas públicas, e as projeções mais catastrofi­stas estão descartada­s de imediato.

Um fator decisivo, ao que tudo indica, será a evolução do quadro eleitoral. A percepção a respeito da viabilidad­e futura das propostas dos principais presidenci­áveis será crucial para o comportame­nto de empresário­s, investidor­es e consumidor­es no presente. SÃO PAULO BRASÍLIA

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