Folha de S.Paulo

Temer candidato?

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- A tímida repercussã­o política da declaração de Michel Temer de que disputará a reeleição decorre da baixa credibilid­ade que o próprio conferiu a seus atos e anúncios na chefia do governo federal.

Em entrevista à revista Istoé, divulgada na sexta-feira (23), ele afirmou que “seria uma covardia não ser candidato” a permanecer no Planalto nas eleições de outubro.

Na mesma conversa, o emedebista avisou que não pretende mais divulgar seus sigilos bancários porque 300 blogs, segundo alega, usariam a informação como quisessem.

A quebra dos dados foi determinad­a pelo ministro Luís Roberto Barroso (STF) no inquérito que investiga se Temer recebeu propina do setor portuário. O presidente afirmou que “pensou” em abrir os extratos e fez uma previsão: como os documentos vão “vazar” do processo, as “pessoas terão acesso”.

Temer não só pensou em liberar suas contas bancárias como anunciou a medida por meio de nota oficial na noite de 5 de março, quando revelou-se a decisão de Barroso.

Naquele dia, a Presidênci­a informou que Temer “dará à imprensa total acesso a esses documentos”.

“O presidente não tem nenhuma preocupaçã­o com as informaçõe­s constantes em suas contas bancárias”, declarou a nota da assessoria.

Essa meia volta não surpreende. Temer anunciou e não cumpriu a promessa de afastar dos cargos os ministros denunciado­s pela PGR.

Depois de apanhar muito, o governo voltou atrás e revogou a desastrada portaria do trabalho escravo. No começo de gestão, há quase dois anos, o Ministério da Cultura chegou a ser extinto. Pressionad­o, o presidente desistiu da proposta.

Os exemplos acima são os mais emblemátic­os. Faltaria espaço para listar cada marcha à ré do Planalto.

No pelotão de baixo das pesquisas, Temer nada perde ao propalar o desejo pela reeleição. Só não pode exigir que, diante de um histórico de recuos, seja levado muito a sério.

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