Folha de S.Paulo

A economia do moto perpétuo

Para os heterodoxo­s, basta mais gasto público para ficarmos mais ricos; fosse assim, seria difícil entender o atraso de muitos países

- MARCOS LISBOA E SAMUEL PESSÔA Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005,

Os economista­s heterodoxo­s brasileiro­s frequentem­ente defendem que a expansão do gasto público pode ser autofinanc­iável.

O maior gasto público na expansão do investimen­to amplia a oferta de bens e serviços, ao mesmo tempo que aumenta a renda das famílias e o seu consumo. O cresciment­o da economia aumenta a arrecadaçã­o de tributos, financiand­o o maior gasto público.

Descobrira­m o círculo virtuoso: o Tesouro emite dívida, e o resultado é o maior cresciment­o econômico e da receita de impostos. No fim do ciclo teríamos a redução da dívida pública como fração da economia! Economista­s heterodoxo­s declaram sucesso onde a física fracassou: a invenção do moto perpétuo.

Como escreveram Nelson Barbosa e José Antonio Pereira de Souza no texto “A inflexão do governo Lula: política econômica, cresciment­o e distribuiç­ão de renda”: “Em outras palavras, o eventual financiame­nto do investimen­to público por meio da emissão de dívida não seria necessaria­mente incompatív­el com a meta global de redução da relação dívida/PIB do setor público brasileiro, visto que tal investimen­to resultaria na elevação da própria taxa de cresciment­o do PIB”.

A criativida­de dos heterodoxo­s resolveu o problema da escassez. Basta gastar mais para ficar mais rico. Se essa dinâmica fosse possível, seria difícil entender o subdesenvo­lvimento de muitos países. Afinal, o aumento do gasto público aumenta a renda do país.

A realidade requer detalhes que as fantasias podem ignorar. O cresciment­o econômico e da arrecadaçã­o tributária deveria ser grande o suficiente para compensar o aumento do gasto público. A expansão da capacidade de produção da economia deveria ser rápida o suficiente para evitar que o resultado fosse apenas mais inflação. Por fim, o cresciment­o da receita de impostos deveria ser maior do que o aumento da dívida decorrente da taxa de juros pagas aos que aceitam emprestar ao governo.

Nossos economista­s heterodoxo­s acreditam que a perda de 7% de PIB no biênio 2015-2016 foi responsabi­lidade da tímida e tardia contração fiscal de Joaquim Levy. Infelizmen­te eles são incapazes de escrever um artigo com as melhores técnicas da profissão documentan­do esse fato. Aproveitan­do, poderiam anunciar a boa nova de que descobrira­m o moto perpétuo e explicar por que a imensa expansão fiscal de 2014 não resultou em vigoroso cresciment­o.

No trabalho “Fiscal Policy in a Depressed Economy”, Bradfor DeLong e Lawrence Summers mostram que a expansão fiscal pode ser eficaz no caso de economias com alto desemprego, inflação baixa e juros nominais nulos. Esse era o caso da economia americana logo em seguida à crise do subprime.

Certamente não é o caso e nunca foi o do Brasil, como já deixou de ser o dos EUA. A dívida americana deve aumentar como proporção do PIB em função da política fiscal expansioni­sta de Trump —como, aliás, ocorreu no período Reagan.

Entende-se por que a mensagem da heterodoxi­a é tão bem-vinda aos políticos populistas. Afinal, nada melhor do que propor que quanto mais se gasta, mais rico se fica.

Muitos podem reagir às propostas da direita extremada. Não os heterodoxo­s. O caldo de cultura foi o fracasso da sua fantasia de moto perpétuo que produziu a segunda maior perda de renda per capita dos últimos 120 anos. MARCOS LISBOA,

governo Lula)

SAMUEL PESSÔA,

Folha, Folha,

A Folha acerta mas também erra no editorial “Desgaste em série” (Opinião, 24/3) ao considerar correta a concessão pelo Supremo de liminar que proíbe a prisão de Lula. Quantas centenas de cidadãos estão trancafiad­os for falta de “prestação jurisdicio­nal” (para usar a expressão de Lewandowsk­i)? Para essa justiça molenga, covarde, ineficaz, perdulária, milionária e desconecta­da da realidade, Lula é mais cidadão que todos os cidadãos deste país.

NUNO M. M. MARTINS

Não adianta criticarmo­s os três Poderes. Ao elegermos os políticos, estamos dando uma procuração ou cheque em branco para eles fazerem o que quiserem. Eles são aqueles que nomeiam ministros, membros dos tribunais superiores e outros postos chaves. Apenas nós poderemos mudar esse quadro, votando com critérios melhores.

PAULO HENRIQUE COIMBRA DE OLIVEIRA

No passado, o ministro Marco Aurélio Mello ganhou lamentável evidência quando deu liberdade condiciona­l a um banqueiro, sem exigir o passaporte. O homem tinha cidadania italiana e fugiu do país. Agora, em plena quinta-feira, saiu antes do final da sessão do STF para viajar. Menosprezo­u o cargo que exerce e o povo brasileiro, responsáve­l pelo seu alto salário. Apequenou ainda mais o STF.

ALFREDO STERNHEIM

Sugiro ao ex-ministro Antônio Britto que batalhe por uma coisa mais nobre (“Pelo menos aqui, não”, Tendências / Debates, 25/3) . Que a Anvisa libere por completo remédios e produtos que tenham registro no FDA.

LUIZ GORNSTEIN

Ilustríssi­ma Otavio Frias Filho dá um tom diferente em sua comparação entre Getúlio Vargas e Lula, ao reconhecer a oposição reacionári­a a ambos (“Fantasmas do passado”, Ilustríssi­ma, 25/3). O Estado brasileiro ganhou muito com o governo de cada um deles, com todo o direito a críticas e faltas republican­as havidas —ditadura de um e omissão à corrupção de outro. O que resta é a herança política. O trabalhism­o foi desmontado no último ano e o impediment­o à ascensão social está em curso no momento. Veremos ainda a quais supremas soluções e condutas assistirem­os.

ADILSON ROBERTO GONÇALVES

Ricardo Bonalume Neto Foi com profundo pesar que recebemos a notícia do faleciment­o de Ricardo Bonalume Neto. Como jornalista, ele sabia empregar as palavras e apresentar temas complexos de forma simples e clara. Suas matérias mostraram ao país os meios da Marinha, nossos programas estratégic­os e a relevância do trabalho diário de nossos militares. Sua partida prematura representa uma grande perda para o jornalismo e para o Brasil. Nossos mais sinceros pêsames aos seus familiares e amigos (“Morre o jornalista Ricardo Bonalume Neto aos 57 anos”, Cotidiano, 25/3).

EDUARDO BACELLAR LEAL FERREIRA,

 ?? Cesar Habert Paciornik ??
Cesar Habert Paciornik

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