Folha de S.Paulo

Aliados esperam ganhos com gestão França

Posse de novo governador, após renúncia de Alckmin, é vista com expectativ­a em São Vicente, seu reduto eleitoral

- JOSÉ MARQUES

Políticos da Baixada Santista fazem há dois anos planos por mais recursos e cargos para a região

O vice-governador Márcio França (PSB) só deve assumir o governo de São Paulo no próximo dia 7, mas desde o início de 2016 seu grupo político tem alimentado essa possibilid­ade para atrair verbas, eleger candidatos e ocupar cargos em São Vicente (Baixada Santista), seu reduto eleitoral.

À época, a prefeitura era comandada por Luis Cláudio Bili, um ex-aliado que virou opositor e se gabava por ter derrotado “o homem que se acha o dono da cidade”. Ele venceu Caio França (PSB), filho do vice-governador.

Com ajuda de um grupo que divulgava obras que seriam financiada­s com recursos estaduais, o cunhado de Márcio França, Pedro Gouvêa (MDB), foi eleito no pleito municipal de 2016 em uma coligação de 15 partidos.

Desde a candidatur­a, seus apoiadores esperam que o município, cuja política sofre interferên­cia direta do vicegovern­ador, seja o destino das atenções e recursos da nova gestão estadual.

“São Vicente pode quebrar um jejum de 484 anos de prestígio junto aos grandes mandatário­s do país”, dizia texto de revista distribuíd­a em 2016 por uma associação ligada ao PSB do município que se intitulava “São Vicente Novo Começo”.

Nela, listava obras de aproximada­mente R$ 350 milhões a serem tocadas com dinheiro estadual, mais implantaçã­o de termelétri­ca privada de R$ 9 bilhões cujas tratativas foram discutidas, segundo o texto, “em audiência com o vice-governador Márcio França, no Palácio dos Bandeirant­es”.

A publicação anunciava na capa: “Conheça os projetos que vão trazer empregos e qualidade de vida para SV (São Vicente)”. Nas páginas internas, no futuro do presente, vinha o título: “Rodoanel do Mar permitirá volta à ilha de SV e vai valorizar imóveis - Prazo: começo de 2018 - Custo: R$ 30 milhões.” O dinheiro viria do governo.

A maioria dos projetos não saiu do papel, mas Gouvêa diz ter expectativ­as de mais recursos nos nove meses de mandato de França. O vice-governador assumirá a gestão de São Paulo porque Geraldo Alckmin (PSDB) deixará o governo para disputar a Presidênci­a. França será candidato à reeleição. EXPECTATIV­AS O presidente da associação Novo Começo, o dono de cartórios Douglas Laranja, diz que o grupo foi criado com o objetivo de elaborar propostas que pudessem melhorar a cidade —mas não que necessaria­mente tivessem que ser, de fato, tocadas.

Mas, como outros aliados, espera que esses projetos sejam financiado­s pelo novo governador e já planeja remontar o grupo para oferecer propostas para a reeleição de França e de deputados. “Com o carinho que o Márcio tem pela cidade, com certeza ele vai ajudar bastante.”

Laranja e outros membros da associação passaram a ocupar postos na prefeitura após a eleição de Gouvêa.

“Eram ações paralelas, a minha candidatur­a e a ONG Novo Começo. Mas a gente tinha um discurso bastante próximo a esse momento que a gente está vivendo hoje, de o Márcio assumir o Governo do Estado”, disse Gouvêa à reportagem, na sede da prefeitura.

Ele afirma que, por essa proximidad­e de ideias, trouxe os membros da Novo Começo para a gestão. E afirma que tem tentado organizar as finanças e trazer recursos para implantar os projetos.

Irmão da esposa do vicegovern­ador, Lúcia França, Gouvêa trabalha com o cunhado desde 1997, quando Márcio França iniciou sua primeira gestão na prefeitura de São Vicente. Foi reeleito em 2000 e elegeu o sucessor, Tercio Garcia, que governou por dois mandatos.

Em articulaçã­o que envolveu o grupo de Márcio França, Gouvêa foi alçado este ano à presidênci­a da Condesb (Conselho de Desenvolvi­mento da Baixada Santista), que era comandada pelo PSDB.

Segundo Gouvêa, os prefeitos da Baixada esperam hoje que, com França governador, haja uma melhor relação com a região. “Para que a gente possa receber mais recurso e nesse pequeno intervalo de nove meses consiga trazer benefícios para a região.”

Ele diz que o comando de Márcio França sobre a política local “não é um império, mas um legado”.

Na Câmara Municipal, não há oposição e a influência do vice-governador sobre os partidos que compõem o Legislativ­o é comentada abertament­e. O atual presidente, Wilson Cardoso, era filiado ao PT antes de se candidatar a vereador em 2016 pelo PSB, a convite de França.

Uma das anedotas contadas na cidade é de que, ao se candidatar à reeleição como prefeito, faltou espaço na ficha da Justiça Eleitoral para preencher todos os partidos da coligação que o apoiava.

O que é considerad­o virtude para seus aliados é visto como um problema para seus poucos opositores.

Candidato à prefeitura derrotado por Gouvêa em 2016, Kayo Amado (Rede) diz que o vice-governador loteia administra­ções. “França não tem um projeto de Estado. O que ele faz é computar partidos.”

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Avener Prado - 19.mar.2018/Folhapress O vice-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), que deve assumir a gestão do estado com a renúncia de Alckmin

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