Folha de S.Paulo

Ela era uma empresária e diretora de filmes muito séria, que segurava as rédeas de sua carreira”

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

DO NEW YORK TIMES

O público sabe ao mesmo tempo demais sobre Stephanie Clifford, conhecida por seu pseudônimo artístico, Stormy Daniels, e quase nada.

Ela é a atriz de filmes pornográfi­cos que está processand­o o presidente, com quem disse que teve um caso extraconju­gal consensual, pedindo para ser desobrigad­a de cumprir um acordo de silêncio que fechou com o advogado dele pouco antes da eleição de 2016. Nos últimos dois meses, ela conduziu a história de seu alegado relacionam­ento com o presidente Donald Trump, além dos US$130 mil que lhe teriam sido pagos para garantir seu silêncio, até convertê-la em um escândalo maior.

Se a ação judicial movida por Clifford seguir adiante, é possível que Trump seja obrigado a depor, e a ação pode produzir provas de violações das regras sobre gastos de campanha.

Para muitos na capital, Clifford, 39 anos, virou uma força inesperada. Algumas pessoas em Washington comentam brincando que é ela, e não o promotor especial Robert Mueller, quem pode derrubar Trump.

Em sua vida profission­al, Clifford tem sido uma mulher no controle de sua própria narrativa, num setor onde isso pode ser incomum. Antes dos 30 anos Clifford já havia evoluído de stripper a atriz principal e diretora, além de ocasional sucesso junto ao grande público. Por que uma folha de papel e uma equipe de advogados do presidente a fariam recuar?

“Ela era a chefe, e todo mundo tinha consciênci­a disso”, disse a atriz pornô Nina Hartley.

“Ela era uma empresária e diretora de filmes muito séria, que segurava as rédeas de sua carreira”, disse Judd Apatow, que dirigiu Clifford em pontas em comédias.

Clifford tem uma filha, é casada pela terceira vez e tem um hobby caro: shows de hipismo. Mais recentemen­te, vem sendo difícil para Clifford passar despercebi­da, mas isso é algo intenciona­l. Ela aproveitou sua nova fama para lançar uma turnê como stripper, com espetáculo­s marcados até o fim do ano.

Nem todo o mundo se interessa em comparecer. “Tenho quase certeza que putas burras vão para o inferno”, alguém escreveu no Twitter de Clifford na semana passada. “Sorte minha que sou uma puta inteligent­e”, respondeu.

Foi com um slogan político chamativo, “fodendo com as pessoas honestamen­te”, que Clifford se lançou candidata ao senado da Louisiana, em 2009. Mas a campanha acabou suspensa, quando ela foi detida, acusada de violência doméstica, depois de bater em seu marido, ator pornô. Clifford tinha sido casada anteriorme­nte com outro ator pornô.

Desde então ela se casou com ainda outro colega de seu setor, Brendon Miller, pai de sua filha, que agora tem 7 anos.

JUDD APATOW

roteirista e cineasta que dirigiu Clifford em pontas em comédias

DE SÃO PAULO

Muitos políticos americanos acabaram em maus lençóis não por traírem suas mulheres, mas por tentarem encobrir a traição. Foi assim com Bill Clinton, John Edwards e, agora, pode acontecer com Donald Trump.

O presidente dos EUA não infringiu nenhuma lei ao manter uma relação extraconju­gal com a atriz pornô Stephanie Clifford, mais conhecida como Stormy Daniels, em 2006.

Mas Trump pode ter violado a legislação eleitoral quando seu advogado, Michael Cohen, pagou US$ 130 mil a Clifford para que ela não revelasse o relacionam­ento com o presidente. O pagamento foi feito 11 dias antes da eleição de 2016.

A organizaçã­o anticorrup­ção Common Cause protocolou uma denúncia junto à Comissão Federal Eleitoral afirmando que o pagamento para silenciar Clifford configura uma doação ilegal, o que pode levar a multas e prisão.

Segundo a entidade, o dinheiro deveria ter sido contabiliz­ado como doação de campanha porque “tinha o objetivo de influencia­r a eleição de 2016”.

Se o pagamento tivesse sido feito por Cohen em nome das organizaçõ­es Trump, seria ilegal, porque empresas não podem doar para candidatos. No entanto, Cohen afirmou que “nem as organizaçõ­es Trump, nem a campanha de Trump participar­am”.

Mesmo se fosse pessoal, a doação também seria irregular, porque cada indivíduo tem um teto de doação de US$ 2.700. Caso Trump tenha reembolsad­o Cohen, também seria irregular, porque, apesar de o candidato poder fazer doações ilimitadas a sua própria campanha, ele é obrigado a declará-las. De qualquer maneira, Cohen disse que não foi reembolsad­o.

Na eleição de 2008, o senador democrata John Edwards teve um problema semelhante. Edwards disputou a primária do partido e era cotado para ser vice na chapa de Barack Obama. O chefe da campanha de Edwards e um doador fizeram pagamentos a uma mulher que havia tido um filho com Edwards. Edwards era casado e sua mulher passava por tratamento de câncer. Ele foi indiciado por usar dinheiro da campanha para silenciar a amante e podia ter sido condenado a 25 anos de prisão e multa de US$ 1,25 milhão, mas acabou absolvido.

No caso de ex-presidente Bill Clinton, ele não se enrolou por ter feito sexo oral com a estagiária Monica Lewinski, mas por ter mentido. Em depoimento sob juramento, Clinton negou que tivesse mantido relações sexuais com Lewinsky. Isso gerou acusações de perjúrio e obstrução de justiça, que levaram a Câmara a aprovar o pedido de impeachmen­t contra Clinton em dezembro de 1998. Ele só não foi afastado, porque o senado não aprovou o impeachmen­t.

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