Ela era uma empresária e diretora de filmes muito séria, que segurava as rédeas de sua carreira”
DO NEW YORK TIMES
O público sabe ao mesmo tempo demais sobre Stephanie Clifford, conhecida por seu pseudônimo artístico, Stormy Daniels, e quase nada.
Ela é a atriz de filmes pornográficos que está processando o presidente, com quem disse que teve um caso extraconjugal consensual, pedindo para ser desobrigada de cumprir um acordo de silêncio que fechou com o advogado dele pouco antes da eleição de 2016. Nos últimos dois meses, ela conduziu a história de seu alegado relacionamento com o presidente Donald Trump, além dos US$130 mil que lhe teriam sido pagos para garantir seu silêncio, até convertê-la em um escândalo maior.
Se a ação judicial movida por Clifford seguir adiante, é possível que Trump seja obrigado a depor, e a ação pode produzir provas de violações das regras sobre gastos de campanha.
Para muitos na capital, Clifford, 39 anos, virou uma força inesperada. Algumas pessoas em Washington comentam brincando que é ela, e não o promotor especial Robert Mueller, quem pode derrubar Trump.
Em sua vida profissional, Clifford tem sido uma mulher no controle de sua própria narrativa, num setor onde isso pode ser incomum. Antes dos 30 anos Clifford já havia evoluído de stripper a atriz principal e diretora, além de ocasional sucesso junto ao grande público. Por que uma folha de papel e uma equipe de advogados do presidente a fariam recuar?
“Ela era a chefe, e todo mundo tinha consciência disso”, disse a atriz pornô Nina Hartley.
“Ela era uma empresária e diretora de filmes muito séria, que segurava as rédeas de sua carreira”, disse Judd Apatow, que dirigiu Clifford em pontas em comédias.
Clifford tem uma filha, é casada pela terceira vez e tem um hobby caro: shows de hipismo. Mais recentemente, vem sendo difícil para Clifford passar despercebida, mas isso é algo intencional. Ela aproveitou sua nova fama para lançar uma turnê como stripper, com espetáculos marcados até o fim do ano.
Nem todo o mundo se interessa em comparecer. “Tenho quase certeza que putas burras vão para o inferno”, alguém escreveu no Twitter de Clifford na semana passada. “Sorte minha que sou uma puta inteligente”, respondeu.
Foi com um slogan político chamativo, “fodendo com as pessoas honestamente”, que Clifford se lançou candidata ao senado da Louisiana, em 2009. Mas a campanha acabou suspensa, quando ela foi detida, acusada de violência doméstica, depois de bater em seu marido, ator pornô. Clifford tinha sido casada anteriormente com outro ator pornô.
Desde então ela se casou com ainda outro colega de seu setor, Brendon Miller, pai de sua filha, que agora tem 7 anos.
JUDD APATOW
roteirista e cineasta que dirigiu Clifford em pontas em comédias
DE SÃO PAULO
Muitos políticos americanos acabaram em maus lençóis não por traírem suas mulheres, mas por tentarem encobrir a traição. Foi assim com Bill Clinton, John Edwards e, agora, pode acontecer com Donald Trump.
O presidente dos EUA não infringiu nenhuma lei ao manter uma relação extraconjugal com a atriz pornô Stephanie Clifford, mais conhecida como Stormy Daniels, em 2006.
Mas Trump pode ter violado a legislação eleitoral quando seu advogado, Michael Cohen, pagou US$ 130 mil a Clifford para que ela não revelasse o relacionamento com o presidente. O pagamento foi feito 11 dias antes da eleição de 2016.
A organização anticorrupção Common Cause protocolou uma denúncia junto à Comissão Federal Eleitoral afirmando que o pagamento para silenciar Clifford configura uma doação ilegal, o que pode levar a multas e prisão.
Segundo a entidade, o dinheiro deveria ter sido contabilizado como doação de campanha porque “tinha o objetivo de influenciar a eleição de 2016”.
Se o pagamento tivesse sido feito por Cohen em nome das organizações Trump, seria ilegal, porque empresas não podem doar para candidatos. No entanto, Cohen afirmou que “nem as organizações Trump, nem a campanha de Trump participaram”.
Mesmo se fosse pessoal, a doação também seria irregular, porque cada indivíduo tem um teto de doação de US$ 2.700. Caso Trump tenha reembolsado Cohen, também seria irregular, porque, apesar de o candidato poder fazer doações ilimitadas a sua própria campanha, ele é obrigado a declará-las. De qualquer maneira, Cohen disse que não foi reembolsado.
Na eleição de 2008, o senador democrata John Edwards teve um problema semelhante. Edwards disputou a primária do partido e era cotado para ser vice na chapa de Barack Obama. O chefe da campanha de Edwards e um doador fizeram pagamentos a uma mulher que havia tido um filho com Edwards. Edwards era casado e sua mulher passava por tratamento de câncer. Ele foi indiciado por usar dinheiro da campanha para silenciar a amante e podia ter sido condenado a 25 anos de prisão e multa de US$ 1,25 milhão, mas acabou absolvido.
No caso de ex-presidente Bill Clinton, ele não se enrolou por ter feito sexo oral com a estagiária Monica Lewinski, mas por ter mentido. Em depoimento sob juramento, Clinton negou que tivesse mantido relações sexuais com Lewinsky. Isso gerou acusações de perjúrio e obstrução de justiça, que levaram a Câmara a aprovar o pedido de impeachment contra Clinton em dezembro de 1998. Ele só não foi afastado, porque o senado não aprovou o impeachment.