Folha de S.Paulo

Ex-presidente da Catalunha é detido na Alemanha

Líder do movimento separatist­a, Carles Puigdemont voltava para Bruxelas, onde estava exilado desde 2017

- DIOGO BERCITO

Caberá à promotoria de Schleswig, no norte alemão, decidir se cumpre o pedido de extradição do político

O ex-presidente catalão Carles Puigdemont foi detido neste domingo (25) pela polícia alemã, que cumpria uma ordem de detenção europeia emitida pela Espanha. Ele pode ser extraditad­o para Madri.

Puigdemont foge da Justiça espanhola desde que, em outubro passado, declarou de maneira unilateral a independên­cia da Catalunha.

Ele foi acusado na sexta (23) de rebelião, um crime que pode levar a até 30 anos de prisão. Há também outras acusações, como a de uso indevido de verba pública.

Puigdemont viveu os últimos meses na Bélgica, em exílio, de onde recentemen­te viajou para a Finlândia. Ele retornava a sua casa em Bruxelas quando foi detido em um posto de gasolina pouco depois de cruzar a fronteira entre Dinamarca e Alemanha.

O ex-presidente catalão transitava de carro para evitar as autoridade­s nos aeroportos, afirma a polícia espanhola. Os serviços de inteligênc­ia de Madri vinham acompanhan­do os movimentos dele nos últimos três dias, em cooperação com as autoridade­s alemãs.

Segundo a agência de notícias alemã DPA, Puigdemont passaria a noite na prisão de Neumünster e se apresentar­ia a um juiz nesta segunda-feira (26).

Por ora, ele está em prisão temporária, sob a guarda da promotoria da cidade de Schleswig, que precisa decidir se cumpre a extradição ou não.

O processo, durante o qual Puigdemont pode ser mantido preso, tem de ser resolvido em até 60 dias, segundo a lei alemã. Depois disso, há dez dias adicionais para o cumpriment­o da extradição.

A Alemanha deteve 1.635 pessoas em 2015 cumprindo ordens de detenção europeias, segundo o jornal El País. Dos detidos, 1.283 foram entregues a seus países, em prazos que variaram de 15 (no caso de haver consentime­nto do réu) a 47 dias. MANIFESTAÇ­ÕES Em protesto contra a detenção do ex-presidente, organizaçõ­es separatist­as convocaram manifestaç­ões para o domingo em Barcelona, a capital catalã.

Multidões se reuniram diante da sede do governo central e do consulado alemão exigindo a sua soltura. Diante da sede da Comissão Europeia, aglomerara­m-se cerca de 55 mil pessoas, segundo a guarda municipal.

Cinquenta e três pessoas ficaram feridas nos atos e quatro foram detidas.

Na sexta, ao acusar Puigdemont de rebelião, o juiz do Supremo Tribunal da Espanha reativou uma ordem de detenção europeia, que tem de ser cumprida pelos paísesmemb­ros do bloco.

A Alemanha é um aliado próximo do governo conservado­r de Mariano Rajoy.

Angela Merkel foi uma das defensoras das medidas de Rajoy contra o separatism­o catalão, incluindo a dissolução do governo regional e a destituiçã­o de Puigdemont.

Outros cinco líderes catalães foram detidos em Madri na sexta-feira. No total, 13 foram acusados de rebelião, como o ex-presidente. Parte da oposição espanhola vê essas detenções e acusações como demasiado repressiva­s.

A Catalunha é uma região espanhola já com alguma autonomia, incluindo um Parlamento e uma polícia próprios. O separatism­o, exacerbado nos últimos anos, é considerad­o ilegal por Madri.

Uma das dificuldad­es para a extradição de Puigdemont da Bélgica era a ausência, na legislação desse país, de um crime semelhante ao de rebelião, conforme entendido pelo direito espanhol.

Na Alemanha, porém, o Código Penal prevê penas de a partir de dez anos (até a prisão perpétua) para quem “sabotar a existência contínua da República Federal” ou “modificar a ordem constituci­onal”. Será mais fácil, portanto, que Berlim extradite Puigdemont.

“Acabou a fuga do golpista”, disse Albert Rivera, líder do partido centrista Cidadãos, hoje um dos mais influentes. “Ele não pode gozar de imunidade por tentar destruir uma democracia europeia.”

Já o advogado belga de Puigdemont, Paul Bekaert, afirmou que “a Espanha está usando a ordem de detenção europeia para prender opositores políticos. Não há separação de poderes nem democracia.”

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Manu Fernandez/Associated Press Manifestan­te pró-independên­cia exibe máscara com rosto de Puigdemont em Barcelona

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