‘Falta muito para medir tortura no Chile’
Mario Carroza, que apura mortes de Allende e Neruda durante ditadura, diz que repressão não foi de todo mensurada
Juiz hoje investiga se Nobel de literatura chileno teria sido envenenado pelo regime Augusto Pinochet
Num país que demorou pelo menos 20 anos após o fim de sua ditadura (1973-1990) para começar a investigar os abusos de direitos humanos ocorridos durante o período, o juiz chileno Mario Carroza acumula as principais causas relacionadas a essa ferida ainda aberta.
Passam ou passaram por suas mãos as decisões sobre os casos mais significativos relacionados ao período: as mortes do Nobel Pablo Neruda (1904-73), do ex-presidente Salvador Allende (190873), o episódio Quemados, em que vários oficiais do Exército são acusados de queimar dois adolescentes, em 1986, e a investigação das circunstâncias em que morreu, na prisão, o pai da ex-presidente Michelle Bachelet.
Carroza recebe a Folha em seu escritório, no centro de Santiago. Com a voz serena, conta que a mudança de comando no país —o presidente de centro-direita Sebastián Piñera assumiu há pouco— não o preocupa.
“A Justiça chilena hoje, no que diz respeito a direitos humanos, é independente. Além disso, quando começamos nosso trabalho, estávamos no primeiro mandato de Piñera [2010-14], depois demos continuidade com Bachelet [2014-18], e não houve ingerência alguma”, afirma.
O caso sobre o qual anda debruçado e diz que “teremos de tomar uma decisão logo” é justamente o do poeta Pablo Neruda.
Há testemunhas e algumas evidências que sugerem que ele pode ter sido envenenado, por suas posições
MARIO CARROZA
juiz chileno