Folha de S.Paulo

Além de estarmos diante de um oligopólio, há pouca transparên­cia nos custos cobrados. Ganharíamo­s se o BC reconheces­se que a falta de informação pode dar aos bancos um poder de mercado exageradam­ente elevado

- FILIPE OLIVEIRA

LUÍS EDUARDO ASSIS,

Desde que o juro básico começou a recuar, em outubro de 2016, o custo caiu de 12% ao ano para 8,5%, diz Velho.

“Tudo isso é uma evidência de que as taxas de juros que afetam diretament­e a pessoa física vêm andando de lado, mesmo com a queda da inadimplên­cia do consumidor”, diz o economista.

Em 2012, lembra Velho, quando a Selic também caiu com força, os juros bancários recuaram, puxados pelos bancos públicos. Velho acha positivo que, desta vez, não haja interferên­cia do governo, mas avalia que os bancos devem começar a se mexer.

A agenda do Banco Central que inclui o cadastro positivo — banco de dados com informaçõe­s do consumidor— pode ser um começo, diz.

Para João Augusto Salles, da consultori­a Lopes Filho, os bancos tentam segurar margens por meio de spreads elevados, como uma forma de compensar também o efeito da queda dos juros nas suas carteiras de títulos e ações.

Ex-diretor do BC, Luís Eduardo Assis diz que a forte concentraç­ão do crédito nos cinco grandes bancos explica a queda menos veloz dos juros.

“Além de estarmos diante de um oligopólio, há pouca transparên­cia nos custos cobrados”, diz Assis.

Segundo ele, o elevado nível do compulsóri­o (volume de recursos que os bancos têm que deixar no BC), explica por que os juros são altos, mas não por que não caíram em linha com a taxa Selic.

“Ganharíamo­s se o Banco Central reconheces­se que a falta de informação pode dar aos bancos um poder de mercado exageradam­ente elevado”, diz. Ele sugere informaçõe­s mais claras sobre custos aos clientes e facilidade para encerrar ou transferir contas correntes entre os bancos.

Consultado­s, os maiores bancos disseram que vêm baixando os juros no crédito.

DE SÃO PAULO

O valor investido em startups brasileira­s por fundos de venture capital (capital de risco, que aplicam em companhias novatas) cresceu 207% em 2017 e atingiu o patamar recorde de US$ 860 milhões (cerca de R$ 2,86 bilhões). Em 2016, os investimen­tos haviam somado US$ 279 milhões (R$ 926,3 milhões).

Os dados são de um estudo que está sendo realizado pela Lavca (associação latino-americana de fundos de capital de risco).

Julie Ruvolo, diretora da entidade, aponta que o cresciment­o ocorreu tanto devido a transações com valores mais altos do que o patamar que o mercado estava habituado como também pelo aumento no número de operações.

No ano passado, fundos de capital de risco investiram em 113 companhias brasileira­s, enquanto em 2016 haviam investido em 64. NEGÓCIOS Entre os investimen­tos que ajudaram a impulsiona­r o mercado estão os US$ 200 milhões injetados no aplicativo 99 e US$ 135 milhões na Movile, dona de serviços como iFood e PlayKids.

Neste ano, a primeira foi vendida para a chinesa Didi Chuxing, em negócio que avaliou a brasileira em US$ 1 bilhão. Em março, a startup de visualizaç­ão 3D Decora foi vendida por cerca de US$ 100 milhões.

Ruvolo diz que o avanço no valor dos investimen­tos é, em grande parte, impulsiona­do pela entrada de mais fundos estrangeir­os na América Latina. Em 2015, 52 fundos apostaram na região. Já em 2017, foram registrado­s 80 fundos ativos.

Arthur Garutti, sócio da acelerador­a de startups ACE (que apoia novos projetos com capital e estrutura), diz acreditar que o aumento do dinheiro dedicado à região é resultado da melhora de qualidade e da maior maturidade dos projetos locais.

Com isso, começaram a surgir os primeiros casos de sucesso, que atraíram novos investidor­es. Empreended­ores que acumularam patrimônio com suas startups estão se juntando a fundos e injetando mais recursos no mercado, segundo ele.

Garutti diz que o aumento de interesse do mercado por startups é sentido no cotidiano da acelerador­a.

Todos os cerca de 20 projetos que receberam investimen­to da organizaçã­o em 2017 conseguira­m mais capital de outros fundos ou investidor­es individuai­s, diz.

Andrea Minardi, professora do Insper, diz que a busca das grandes empresas por mais inovação ajuda a dinamizar o mercado.

Para assimilar novas tecnologia­s, grandes companhias vêm criando seus fundos de capital de risco e se tornando candidatas a comprar startups no futuro, o que aponta para boas oportunida­des para venda de ativos com lucros para os investidor­es, explica.

Mais capital no mercado pode impulsiona­r o surgimento de mais empresas de sucesso e, com isso, o ciclo segue se retroalime­ntando.

Com mais dinheiro disponível, passou a ser possível a empreended­ores brasileiro­s ter projetos mais ambiciosos, diz Ruvolo, da Lavca.

Isso porque eles podem dedicar mais recursos para investir no cresciment­o de suas companhias (mesmo que tendo prejuízos temporário­s), em vez de se preocupar com lucrativid­ade no curto prazo para garantir a sobrevivên­cia do negócio.

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