Além de estarmos diante de um oligopólio, há pouca transparência nos custos cobrados. Ganharíamos se o BC reconhecesse que a falta de informação pode dar aos bancos um poder de mercado exageradamente elevado
LUÍS EDUARDO ASSIS,
Desde que o juro básico começou a recuar, em outubro de 2016, o custo caiu de 12% ao ano para 8,5%, diz Velho.
“Tudo isso é uma evidência de que as taxas de juros que afetam diretamente a pessoa física vêm andando de lado, mesmo com a queda da inadimplência do consumidor”, diz o economista.
Em 2012, lembra Velho, quando a Selic também caiu com força, os juros bancários recuaram, puxados pelos bancos públicos. Velho acha positivo que, desta vez, não haja interferência do governo, mas avalia que os bancos devem começar a se mexer.
A agenda do Banco Central que inclui o cadastro positivo — banco de dados com informações do consumidor— pode ser um começo, diz.
Para João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho, os bancos tentam segurar margens por meio de spreads elevados, como uma forma de compensar também o efeito da queda dos juros nas suas carteiras de títulos e ações.
Ex-diretor do BC, Luís Eduardo Assis diz que a forte concentração do crédito nos cinco grandes bancos explica a queda menos veloz dos juros.
“Além de estarmos diante de um oligopólio, há pouca transparência nos custos cobrados”, diz Assis.
Segundo ele, o elevado nível do compulsório (volume de recursos que os bancos têm que deixar no BC), explica por que os juros são altos, mas não por que não caíram em linha com a taxa Selic.
“Ganharíamos se o Banco Central reconhecesse que a falta de informação pode dar aos bancos um poder de mercado exageradamente elevado”, diz. Ele sugere informações mais claras sobre custos aos clientes e facilidade para encerrar ou transferir contas correntes entre os bancos.
Consultados, os maiores bancos disseram que vêm baixando os juros no crédito.
DE SÃO PAULO
O valor investido em startups brasileiras por fundos de venture capital (capital de risco, que aplicam em companhias novatas) cresceu 207% em 2017 e atingiu o patamar recorde de US$ 860 milhões (cerca de R$ 2,86 bilhões). Em 2016, os investimentos haviam somado US$ 279 milhões (R$ 926,3 milhões).
Os dados são de um estudo que está sendo realizado pela Lavca (associação latino-americana de fundos de capital de risco).
Julie Ruvolo, diretora da entidade, aponta que o crescimento ocorreu tanto devido a transações com valores mais altos do que o patamar que o mercado estava habituado como também pelo aumento no número de operações.
No ano passado, fundos de capital de risco investiram em 113 companhias brasileiras, enquanto em 2016 haviam investido em 64. NEGÓCIOS Entre os investimentos que ajudaram a impulsionar o mercado estão os US$ 200 milhões injetados no aplicativo 99 e US$ 135 milhões na Movile, dona de serviços como iFood e PlayKids.
Neste ano, a primeira foi vendida para a chinesa Didi Chuxing, em negócio que avaliou a brasileira em US$ 1 bilhão. Em março, a startup de visualização 3D Decora foi vendida por cerca de US$ 100 milhões.
Ruvolo diz que o avanço no valor dos investimentos é, em grande parte, impulsionado pela entrada de mais fundos estrangeiros na América Latina. Em 2015, 52 fundos apostaram na região. Já em 2017, foram registrados 80 fundos ativos.
Arthur Garutti, sócio da aceleradora de startups ACE (que apoia novos projetos com capital e estrutura), diz acreditar que o aumento do dinheiro dedicado à região é resultado da melhora de qualidade e da maior maturidade dos projetos locais.
Com isso, começaram a surgir os primeiros casos de sucesso, que atraíram novos investidores. Empreendedores que acumularam patrimônio com suas startups estão se juntando a fundos e injetando mais recursos no mercado, segundo ele.
Garutti diz que o aumento de interesse do mercado por startups é sentido no cotidiano da aceleradora.
Todos os cerca de 20 projetos que receberam investimento da organização em 2017 conseguiram mais capital de outros fundos ou investidores individuais, diz.
Andrea Minardi, professora do Insper, diz que a busca das grandes empresas por mais inovação ajuda a dinamizar o mercado.
Para assimilar novas tecnologias, grandes companhias vêm criando seus fundos de capital de risco e se tornando candidatas a comprar startups no futuro, o que aponta para boas oportunidades para venda de ativos com lucros para os investidores, explica.
Mais capital no mercado pode impulsionar o surgimento de mais empresas de sucesso e, com isso, o ciclo segue se retroalimentando.
Com mais dinheiro disponível, passou a ser possível a empreendedores brasileiros ter projetos mais ambiciosos, diz Ruvolo, da Lavca.
Isso porque eles podem dedicar mais recursos para investir no crescimento de suas companhias (mesmo que tendo prejuízos temporários), em vez de se preocupar com lucratividade no curto prazo para garantir a sobrevivência do negócio.