Folha de S.Paulo

Aproveite a tarefa da declaração do Imposto de Renda para fazer uma DR consigo mesmo

- COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo: Samuel Pessôa

IR AO dentista todo ano não é a única coisa chata que precisamos fazer. O encontro forçado com a Receita Federal é outro bom exemplo. O leão, mascote escolhido para representa­r o trabalho de fiscalizaç­ão da Receita, sinaliza que o assunto é coisa séria. O respeitado rei dos animais é agressivo, mas não ataca sem avisar.

Conheço muita gente que entrega essa tarefa para um contador e, ao fazer isso, perde a chance de uma excelente reflexão acerca das suas finanças, analisar o que fez com todo o dinheiro que ganhou e refletir se poderia ter feito melhor.

A declaração anual do Imposto de Renda fotografa nossa situação financeira no dia 31 de dezembro de cada ano e compara com a fotografia tirada na mesma data do ano anterior, apontando se e quanto cresceu o nosso patrimônio.

Se olharmos além dos números, teremos a chance de analisar o que eles revelam, já que retratam as decisões que tomamos em relação aos rendimento­s que ganhamos naquele ano. Se não houve cresciment­o patrimonia­l em relação ao ano anterior, é forte o indício de que estamos transferin­do para terceiros a riqueza que poderia ser nossa.

Se o patrimônio cresceu, cenário que deixa o leão mais alerta, é preciso explicar de onde vieram os recursos financeiro­s que patrocinar­am o aumento de riqueza e se os impostos, quando devidos, foram pagos.

Omitir informaçõe­s nunca é boa estratégia quando o interlocut­or é a Receita. A rede de “informante­s” dela é impression­ante! Recebe informação de tudo (quase tudo) o que acontece com cada CPF ou CNPJ, nos âmbitos municipal, estadual e federal.

Conexão com cartórios permite checar as transações de compra e venda de bens imóveis; nos Detrans fica sabendo do registro de veículos, motos, barcos e até jet skis; os bancos, uma das principais fontes de informação da Receita, revelam as transações financeira­s em contacorre­nte, cartões de débito e crédito, além das aplicações e empréstimo­s.

Nas empresas em geral rastreia a renda que recebemos (folha de pagamentos, FGTS, INSS, IR retido na fonte) e cruza com transações de compra e venda de mercadoria­s e serviços em geral, mediante emissão de nota fiscal eletrônica ou digital.

Em resumo, a Receita quer saber se nossos rendimento­s assalariad­os e outras fontes de renda são suficiente­s para explicar os inúmeros pagamentos feitos ao longo do ano, além de justificar o cresciment­o patrimonia­l declarado.

Para tirar proveito da tarefa obrigatóri­a de juntar toda a papelada e informaçõe­s necessária­s, dedique algum tempo para entender os números e o que eles revelam.

Os rendimento­s auferidos relacionam tudo o que recebemos no exercício fiscal em análise: trabalho assalariad­o, rendimento­s de aplicações financeira­s, renda de aluguéis de imóveis, doações recebidas. O número final totaliza a renda auferida num ano inteiro, advindo das diversas fontes de renda. Surpreenda-se com o número, todo esse dinheiro passou por suas mãos! O que foi feito dele? Consumo puro ou aproveitou para engordar seu patrimônio?

A ficha dos bens e direitos revela nosso patrimônio: imóvel residencia­l, imóveis alugados, veículos, ativos financeiro­s, planos de previdênci­a. Aproveite para analisar se a rentabilid­ade dos investimen­tos foi adequada. A taxa Selic bruta, acumulada em 2017, foi 10,11%, esse foi o custo de oportunida­de, parâmetro que deve ser usado para avaliar o retorno dos seus investimen­tos.

Qual foi o retorno da sua carteira de investimen­to? Se foi muito abaixo desse parâmetro, mexa-se, avalie o que precisa mudar para melhor a rentabilid­ade. Das duas uma: ou a rentabilid­ade está baixa ou o custo está alto. Faça algo para melhorar esse resultado. É o seu patrimônio! Se você não cuidar dele, quem vai? O contador? Acho que não...

Quanto o seu patrimônio cresceu em razão de recursos poupados? Suponha que sua renda anual tenha sido de R$ 100 mil e que R$ 20 mil foram destinados a novos investimen­tos. Essa foi sua capacidade de poupança (20%) e sinaliza que você se esforçou para ampliar seu patrimônio. Bom trabalho!

Aproveite o encontro com o leão, encontre benefício nessa tarefa mesmo que seja feita com a ajuda de um contador. Reflita sobre o significad­o do dinheiro na sua vida e avalie se está sendo usado de forma coerente, alinhada aos seus propósitos e valores. MARCIA DESSEN, marcia.dessen@gmail.com

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Fernando de Almeida

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