Folha de S.Paulo

Lollapaloo­za ecoa discursos contra armas e relembra Marielle

Sem arriscar muito na escolha das atrações principais, evento termina sem surpresas ou gafes

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Veteranos como Pearl Jam e David Byrne se destacaram em ano com poucas mulheres no horário nobre

Teve bastante música, mas a sétima edição brasileira do Lollapaloo­za, que terminou neste domingo (25), também abriu espaço para homenagens a personalid­ades como Marielle Franco e discursos contra armas e violência.

No geral, a edição não apresentou grandes problemas comparada a anos anteriores. O sistema de pulseira eletrônica, que funciona como cartão para compras no evento —motivo de reclamaçõe­s em 2017—, funcionou.

Não houve longas filas para banheiros e esperas descomunai­s nas barracas de alimentaçã­o, bem espalhadas ao redor do autódromo de Interlagos (SP). Mesmo assim, no domingo, o público chegou cedo ao evento, e os caixas para carregar o sistema de pulseira ficaram com filas grandes, maiores do que nos dois dias anteriores.

O Lollapaloo­za arriscou pouco na escolha das atrações principais —trouxe novamente bandas como Pearl Jam e The Killers, que já haviam se apresentad­o no festival— e patinou ao não incluir mulheres entre elas, com exceção de Lana Del Rey, que se apresentou antes do The Killers.

A seleção de artistas se mostrou eficaz em reunir multidões, especialme­nte durante o sábado e o domingo, visivelmen­te mais lotados do que a sexta-feira, ainda que a organizaçã­o confirme a presença de 100 mil pessoas em cada um dos três dias.

A pouca ousadia entre os headliners foi compensada com uma programaçã­o diversa, que contemplou veteranos (David Byrne) e revelações (o jovem Khalid). Assim, agradou a múltiplas gerações e preferênci­as musicais.

Entre as apresentaç­ões, destaque para Pearl Jam, LCD Soundsyste­m, Chance the Rapper, The National, Mano Brown, Rincon Sapiência e Mallu Magalhães.

Em alguns casos, o festival subestimou atrações e prejudicou o público, como no show do Imagine Dragons, que reuniu uma multidão em palco secundário quando teria sido melhor alocado no principal.

A solução foi ocupar também o espaço do palco vizinho, mas o som não chegava bem àqueles que estavam na periferia do descampado — situação também vivenciada por fãs de Red Hot Chili Peppers, este, no palco principal.

A principal falha técnica implicou na interrupçã­o precoce da apresentaç­ão de Liniker, que tocou apenas quatro músicas completas.

A nova disposição dos palcos, que aproximou os espaços secundário­s Axe e Onix, permitiu que o público se movimentas­se

Confira as críticas dos cinco melhores shows do festival

bem entre um e outro, aproveitan­do a programaçã­o intercalad­a. O esquema também facilitou a circulação no imenso autódromo.

Para se ter ideia da dimensão do local, uma repórter da Folha caminhou 30 km durante os três dias de eventos (39.523 passos no total). DISCURSOS A vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), morta a tiros no último dia 14, foi lembrada por artistas como o rapper Rincon Sapiência, Jesuton e até a cantora sueca Zara Larsson, que dedicou uma de suas canções àquela que “lutou pela justiça e contra a brutalidad­e policial e inspirou pessoas não só aqui, mas no mundo todo.”

As bandas Luneta Mágica e Selvagens à Procura de Lei prestaram tributo ao produtor musical Carlos Eduardo Miranda, morto na quinta-feira (22), véspera do festival.

A marcha pela vida, contra a violência derivada do uso de armas, que mobilizou parte da população norte-americana no sábado, também reverberou em Interlagos.

“Estamos mudando o mundo para melhor. Nós veremos mudanças nos Estados Unidos com relação ao porte de armas e nos sentiremos seguros nas ruas”, disse Eddie Vedder, durante show do Pearl Jam, um dos melhores do evento. “Sei que nosso país é semelhante ao de vocês em muitas coisas, há muita merda acontecend­o.”

Era a segunda vez que o tema aparecia naquela noite. Antes, na apresentaç­ão do Imagine Dragons, o cantor Dan Reynolds fez discurso emocionado. “Eu venho com um coração partido e um país dividido, estou cansado de perder nossas crianças para as armas, cansado do que acontece nas nossas escolas”, disse. (AMANDA NOGUEIRA, DAIGO OLIVA, MARCO AURÉLIO CANÔNICO, SARAH MOTA RESENDE, THALES DE MENEZES, THIAGO NEY E VICTORIA AZEVEDO)

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