Apesar de bom protagonista, ‘Pedro Coelho’ gira em falso
FOLHA
Pedro Coelho parece estar seguindo as pegadas de seu compatriota Paddington, que saiu dos livros para se tornar estrela de cinema.
O coelho travesso criado por Beatrix Potter ganhou um longa-metragem para chamar de seu.
Nas mãos do diretor Will Gluck, porém, a atmosfera adocicada do livro vira fumaça. O herói recebe dose extra de rebeldia e se transforma num parente distante do Pernalonga. Confusão por todo lado, ao estilo “Pica-Pau”.
Ou seja, não sobra muito espaço para meiguices ou lições de moral.
Pedro é encrenqueiro, egocêntrico, contraditório, vingativo e não mede esforços para conseguir o que quer —vale até provocar um choque anafilático no inimigo alérgico a amoras.
A cena, aliás, gerou furdunço nos EUA entre alguns pais de crianças que sofrem de alergia alimentar. E a Sony, pressionada pela onda politicamente correta, decidiu se pronunciar, pedindo desculpas por fazer humor com um “problema sério”.
Polêmicas à parte, há de se admitir que o espírito transgressor de Pedro é um dos pontos altos da produção; o que o coloca no caminho oposto das inúmeras animações fofinhas —e insossas— sobre animais.
Nem mesmo o destino cruel de seu pai afasta o jovem coelho da horta do senhor McGregor (Sam Neill). Seduzido pelas frutas e hortaliças, o bicho inferniza a vida do fazendeiro e se livra definitivamente dele depois de uma perseguição alucinante.
Em meio a uma revolução dos bichos, um novo inimigo toma conta do pedaço: Thomas McGregor (Domhnall Gleeson), o sobrinho do velho ranzinza, que, para piorar, ainda se apaixona por Bea (Rose Byrne), a defensora dos coelhos.
Determinado a eliminar qualquer criatura da propriedade, o vilão trava uma batalha com Pedro e sua turma. A partir daí, choques, explosões e lutas corporais invadem a tela e denunciam o grande buraco do longa.
A narrativa sempre anda em círculos. A sucessão de conflitos não leva a história para lugar nenhum.
À certa altura, tudo soa repetitivo; as piadas ficam gastas, e os diálogos, pobres. O núcleo de carne e osso tampouco traz profundidade ao enredo.
Uma pena, quando se considera todo o potencial de “Pedro Coelho”.
Sustentado por um visual bastante atraente (resultado da combinação eficiente entre “live action” e computação gráfica) e conduzido por um protagonista aventureiro cheio de nuances, o filme perde força e brilho diante de uma trama tão agarrada à superfície. (PETER RABBIT) DIREÇÃO Will Gluck PRODUÇÃO Reino Unido/Austrália/ EUA, 2017, livre QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO regular