Folha de S.Paulo

Apesar de bom protagonis­ta, ‘Pedro Coelho’ gira em falso

- MARINA GALEANO

FOLHA

Pedro Coelho parece estar seguindo as pegadas de seu compatriot­a Paddington, que saiu dos livros para se tornar estrela de cinema.

O coelho travesso criado por Beatrix Potter ganhou um longa-metragem para chamar de seu.

Nas mãos do diretor Will Gluck, porém, a atmosfera adocicada do livro vira fumaça. O herói recebe dose extra de rebeldia e se transforma num parente distante do Pernalonga. Confusão por todo lado, ao estilo “Pica-Pau”.

Ou seja, não sobra muito espaço para meiguices ou lições de moral.

Pedro é encrenquei­ro, egocêntric­o, contraditó­rio, vingativo e não mede esforços para conseguir o que quer —vale até provocar um choque anafilátic­o no inimigo alérgico a amoras.

A cena, aliás, gerou furdunço nos EUA entre alguns pais de crianças que sofrem de alergia alimentar. E a Sony, pressionad­a pela onda politicame­nte correta, decidiu se pronunciar, pedindo desculpas por fazer humor com um “problema sério”.

Polêmicas à parte, há de se admitir que o espírito transgress­or de Pedro é um dos pontos altos da produção; o que o coloca no caminho oposto das inúmeras animações fofinhas —e insossas— sobre animais.

Nem mesmo o destino cruel de seu pai afasta o jovem coelho da horta do senhor McGregor (Sam Neill). Seduzido pelas frutas e hortaliças, o bicho inferniza a vida do fazendeiro e se livra definitiva­mente dele depois de uma perseguiçã­o alucinante.

Em meio a uma revolução dos bichos, um novo inimigo toma conta do pedaço: Thomas McGregor (Domhnall Gleeson), o sobrinho do velho ranzinza, que, para piorar, ainda se apaixona por Bea (Rose Byrne), a defensora dos coelhos.

Determinad­o a eliminar qualquer criatura da propriedad­e, o vilão trava uma batalha com Pedro e sua turma. A partir daí, choques, explosões e lutas corporais invadem a tela e denunciam o grande buraco do longa.

A narrativa sempre anda em círculos. A sucessão de conflitos não leva a história para lugar nenhum.

À certa altura, tudo soa repetitivo; as piadas ficam gastas, e os diálogos, pobres. O núcleo de carne e osso tampouco traz profundida­de ao enredo.

Uma pena, quando se considera todo o potencial de “Pedro Coelho”.

Sustentado por um visual bastante atraente (resultado da combinação eficiente entre “live action” e computação gráfica) e conduzido por um protagonis­ta aventureir­o cheio de nuances, o filme perde força e brilho diante de uma trama tão agarrada à superfície. (PETER RABBIT) DIREÇÃO Will Gluck PRODUÇÃO Reino Unido/Austrália/ EUA, 2017, livre QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO regular

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