Folha de S.Paulo

Dilma diz que José Padilha distorceu fatos em série

- FLÁVIO FERREIRA GUSTAVO FIORATTI

A ex-presidente da República Dilma Rousseff (PT) criticou o cineasta José Padilha e a seriado de TV criado por ele, “O Mecanismo”, da Netflix, que é baseada na Operação Lava Jato. A petista diz que Padilha é um “criador de notícias falsas” e a série é “mentirosa e dissimulad­a”.

Em nota divulgada neste domingo (25), Dilma afirma que “a propósito de contar a história da Lava Jato, numa série ‘baseada em fatos reais’, o cineasta José Padilha incorre na distorção da realidade e na propagação de mentiras de toda sorte para atacar” a ela e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Dilma reclama do fato de a obra trazer o personagem Higino, inspirado em Lula, usando a expressão “estancar a sangria”, ao falar da necessidad­e de barrar investigaç­ões.

Como indicado na nota da ex-presidente, na Lava Jato foi o senador Romero Jucá (MDB-RR), um dos articulado­res do impeachmen­t de Dilma, quem disse a frase “tem que mudar o governo para estancar essa sangria”.

A petista também afirma que o seriado situa o caso Banestado em um período que não correspond­e à realidade. “O caso Banestado não começou em 2003, como está na série, mas em 1996, em pleno governo FHC”, diz.

O uso de contas do banco Banestado em um megaesquem­a de operações financeira­s ilegais começou a ser investigad­o pelo Ministério Público na segunda metade da década de 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Porém, a criação da força-tarefa do caso e a delação do doleiro Alberto Youssef (posteriorm­ente colaborado­r também na Lava Jato) ocorreram em 2003.

Entre outros ataques ao enredo, Dilma também critica a parte da obra que mostra relação próxima entre os personagen­s Janete, associada à expresiden­te, e João Pedro Rangel, inspirado no ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, um protagonis­ta da corrupção na estatal de petróleo. FICÇÃO X REALIDADE criador da série disse que não dirigiu nem roteirizou especifica­mente o episódio em que a frase foi dita, embora tenha checado os diálogos.

Padilha defende-se dizendo que “Jucá não é dono dessa expressão [estancar a sangria]” e que, portanto, roteirista­s estão livres para usá-la.

“‘O Mecanismo’ é uma obra-comentário. Na abertura de cada capítulo está escrito que os fatos estão dramatizad­os, se a Dilma soubesse ler, não estaríamos com esse problema”, diz Padilha.

Para ele, o retrato feito na série representa um problema sistêmico de corrupção, que não seria exclusivo do PT, mas de outros partidos e setores.

A reportagem também buscou contato com a Netflix, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.

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Reprodução Sura Berditchev­sky e Maria Ribeiro em cena da série ‘O Mecanismo’ (Netflix), criada pelo cineasta José Padilha

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