Folha de S.Paulo

Alemanha mantém líder catalão preso

- DIOGO BERCITO

A Justiça alemã decidiu na segunda-feira (26) manter preso o ex-presidente catalão Carles Puigdemont, enquanto tramita a ordem europeia de extradição dele a Madri.

Wiebke Hoffelner, portavoz da Promotoria de Schleswig, responsáve­l pelo caso, disse que a decisão de entregar ou não o catalão à Espanha só deve ser tomada a partir de abril.

A Alemanha demora em média 47 dias para cumprir ordens europeias de extradição quando o réu não aceita ser expulso. Ali, a probabilid­ade de que Puigdemont seja entregue a Madri é mais mais alta do que na Bélgica, onde ele estava exilado desde outubro passado.

Para o cumpriment­o de uma ordem de extradição na União Europeia, é necessário que o país em que está o indivíduo-alvo do mandato tenha em sua legislação crime análogo àquele pelo qual o réu é acusado na terra natal.

Puigdemont é acusado pela Espanha de rebelião, o que pode levar a 30 anos de prisão. A Bélgica não prevê crime semelhante, ao contrário da Alemanha, que estipula para ele pena mínima de dez anos (e, em casos extremos, prisão perpétua).

Por outro lado, o advogado de Puigdemont, Jaume Alonso-Cuevillas, irá argumentar que o ex-presidente não terá um julgamento justo na Espanha, o que poderia invalidar a extradição.

Na segunda-feira, em sua primeira declaração pública desde a detenção, Puigdemont pediu —por meio da mu- lher, Marcela Topor— que o impasse não estimule violência da parte dos simpatizan­tes do secessioni­smo —no domingo (25), cerca de cem pessoas ficaram feridas em protestos contra a prisão dele.

Enquanto o processo tramita na Justiça alemã, separatist­as catalães já começaram a se mobilizar. Deputados querem eleger Puigdemont mais uma vez como seu presidente regional, algo que o governo espanhol já alertou ser ilegal.

Separatist­as querem reformar a lei catalã para permitir a posse a distância.

A medida tem o apoio do Juntos pela Catalunha, que Puigdemont representa, e também da sigla de extrema esquerda Candidatur­a de Unidade Popular. Já a Esquerda Republican­a sinaliza preferir não agravar o conflito com Madri. As três forças precisam entrar em acordo para ter a maioria parlamenta­r. INDEPENDÊN­CIA E FUGA Puigdemont foi o responsáve­l pelo plebiscito separatist­a de 1° de outubro, considerad­o ilegal pela Espanha. Ele declarou a independên­cia dessa região de maneira unilateral no dia 27 daquele mesmo mês, o que resultou na dissolução de seu governo.

Para escapar da Justiça, o ex-presidente fugiu para Bruxelas, onde vive desde então. No meio-tempo, Madri convocou novas eleições. Os independen­tistas voltaram a ter maioria, mas não conseguira­m entrar em acordo sobre um candidato viável.

Puigdemont viajou à Finlândia para se reunir com deputados locais e decidiu retornar de carro para se esquivar das autoridade­s nos aeroportos. No domingo (25), foi detido pela polícia alemã 30 quilômetro­s após cruzar a fronteira, vindo da Dinamarca. A Espanha ativara na sexta uma ordem europeia de detenção.

A detenção do catalão pode encerrar o ciclo separatist­a recente. A Justiça espanhola ordenou na sexta-feira passada a prisão de outros cinco líderes secessioni­stas e acusou 13 pessoas de rebelião.

O projeto de independên­cia existe há décadas, mas ganhou força nos últimos anos pela proeminênc­ia política dessa região espanhola.

A liderança catalã tinha esperança de mobilizar a comunidade internacio­nal, retratando o governo central como intolerant­e. Os principais atores europeus, porém, apoiaram o premiê espanhol, Mariano Rajoy.

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Patrik Stollarz/AFP Cartaz pede ‘Libertem Puigdemont’ diante de prisão alemã

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