Folha de S.Paulo

BC trava tarifa de banco no cartão de débito

Instituiçã­o traz para o Brasil modelo usado nos EUA e na UE para elevar concorrênc­ia e ampliar esse tipo de pagamento

- FLAVIA LIMA LAÍS ALEGRETTI

Responsáve­is pela emissão do plástico hoje ficam com 0,8% da operação; meta é que valor caia para 0,5%

O BC (Banco Central) está tentando aumentar a competição no mercado de cartões de débito, interferin­do diretament­e nos custos dos lojistas e limitando os ganhos dos bancos no uso do cartão.

As mudanças encobrem uma disputa por um mercado que movimenta R$ 481 bilhões ao ano em compras só no cartão de débito, ou 11,6% do consumo das famílias.

Nesta segunda-feira (26), o BC informou que vai limitar a tarifa de operação do cartão de débito a partir de 1º de outubro, em linha com o que ocorre nos EUA e em países da Europa. O objetivo é reduzir o custo para os consumidor­es e estimular o uso dessa modalidade de pagamento.

O lojista paga em torno de 1,5% sobre o valor da compra toda vez em que o consumidor usa o cartão de débito como meio de pagamento. Essa tarifa é conhecida como taxa de desconto.

Mas essa tarifa não vai para um único destinatár­io. Ela é dividida entre as donas das maquininha­s e os emissores de cartão (os bancos). Ano após ano, no entanto, os bancos têm levado uma fatia maior desse bolo.

“Esperamos que essa redução seja inteiramen­te repassada”, afirmou o diretor de Política Monetária do Banco Central, Reinaldo Le Grazie. PARTICIPAÇ­ÃO Em 2010, os bancos ficavam com 47,6% dessa taxa. Hoje, abocanham 53%, indica levantamen­to feito por Vitor Meira, consultor da empresa especializ­ada em varejo financeiro, Boarnerges&Cia.

Isso significa que, em média, 0,8% de cada compra feita fica com os bancos —taxa chamada de intercâmbi­o.

É esse pedaço que o BC decidiu controlar com o objetivo de aumentar a competição no setor e populariza­r o uso do débito. Segundo o BC, a tarifa média cobrada pelos bancos terá de cair para 0,5% do valor da transação. E a tarifa máxima não poderá passar de 0,8%.

Segundo Meira, as compras com cartão de débito geraram custos totais ao redor de R$ 7 bilhões aos lojistas ao longo do ano passado.

Desse total, a maior parte —R$ 3,7 bilhões— ficou com os bancos. Com as mudanças sinalizada­s pelo BC, esse va- lor cairia para R$ 2,3 bilhões, gerando uma economia significat­iva aos lojistas.

Embora a expectativ­a do Banco Central seja essa, se isso será repassado ao consumidor é outra história.

Meira lembra que, para o consumidor, usar o crédito ainda tem mais benefícios quando comparado ao débito, como o maior prazo de pagamento da fatura, possibilid­ade de parcelamen­to das compras e pontos em programas de fidelidade.

É por isso, diz ele, que a ação do BC é importante.

Ele diz ainda que o BC optou por agir sobre a parte da tarifa cobrada dos lojistas que vai para os bancos porque é aí que ainda falta competição.

A parte que vai para as credenciad­oras —as maquininha­s— teve uma queda recente, explicada pelo fim de exclusivid­ades entre credenciad­oras e bandeiras e pela entrada de novos competidor­es.

No caso dos bancos, como são eles que dominam a emissão de cartões, podem pressionar por maiores taxas.

No total, a indústria de cartões movimentou R$ 1,2 trilhão em compras em 2017 —R$ 735 bilhões no crédito e outros R$ 481 bilhões em compras feitas no débito.

Além das mudanças no cartão de débito, a indústria discute outras alterações.

O BC anunciou nesta segunda que também vai analisar se é possível fazer redução adicional na tarifa que vai para os bancos (o intercâmbi­o) no débito, além de avaliar a conveniênc­ia de estabelece­r limites na tarifa de intercâmbi­o do cartão de crédito. PARCELADO SEM JUROS Mas alterações não devem parar por aí. No começo de 2018, grandes empresas donas das maquininha­s de cartões retomaram a discussão sobre o que fazer com outro meio de pagamento bastante usado pelo consumidor, o parcelado sem juros.

A ideia discutida na associação do setor seria oferecer nova opção ao consumidor: parcelado com juros e prazo maior para pagamento.

Dada a polêmica, as discussões esfriaram e devem ficar para o próximo ano.

O setor gera receitas bilionária­s, e a expectativ­a de especialis­tas é que há muito espaço para crescer, dado o baixo uso do cartão.

Os grandes bancos são donos das maiores credenciad­oras de cartões. Mas nessa disputa há ainda as credenciad­oras menores que têm avançado na oferta de maquininha­s, como a PagSeguro, do UOL (empresa do Grupo Folha), e a Stone.

Procurada, a Abecs (associação das credenciad­oras de cartão) não se pronunciou.

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Claudio Belli - 16.mar.2015/Valor Reinaldo Le Grazie, diretor de Política Monetária do BC

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