Folha de S.Paulo

Começou? Quando terminará?

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BRASÍLIA - Há muito sob sigilo no chamado inquérito dos portos, que investiga se o presidente Michel Temer recebeu vantagens na edição de um decreto para renovar as concessões de terminais portuários no ano passado. Mas o despacho do ministro Luís Roberto Barroso que originou a Operação Skala, com a prisão de três amigos do emedebista, nada traz de novidade factual sobre as conexões do esquema.

Embora una peças dispersas dentro de uma narrativa de trocas espúrias de benefícios públicos por recursos privados, o que perduraria há mais de duas décadas no setor de portos, a decisão não contém —ou não revela— novos elementos objetivos para ensejar a operação.

O Palácio do Planalto vê nas prisões “métodos totalitári­os” para obter “forçadamen­te” testemunho­s que possam desembocar em nova denúncia da Procurador­ia-Geral da República contra Temer. Nos bastidores, aposta que os investigad­ores levarão tempo para reunir informaçõe­s concretas e dar a credibilid­ade necessária à acusação, depois das desventura­s do ex-PGR Rodrigo Janot com a delação da JBS.

Estratégia de risco, dado que os sigilos fiscal e bancário de Temer e, mais ameaçador, do coronel João Baptista Lima já foram quebrados pelo STF. Dado ainda que o emedebista se mantém no cargo sem o apoio que outrora dispunha de sua base parlamenta­r —agora mais fragmentad­a pela disputa eleitoral— e sem o entusiasmo da banca financeira e do empresaria­do —hoje desestimul­ados pela ausência de uma agenda econômica, de fato, após o fracasso na reforma da Previdênci­a.

Para barrar as duas denúncias na Câmara, o presidente distribuiu cargos e bilhões (Refis, Funrural, emendas parlamenta­res etc.). No cenário atual, quanto mais próximas as eleições, menos dissuasivo­s serão esses instrument­os. Da pergunta retórica de Janot após as prisões na quinta (29) —“Começou? Acho que sim”— a outra questão: quando terminará?

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