Folha de S.Paulo

Bolsonaro quadruplic­a ausência na Câmara

Deputado, que tem investido em viagens, faltou sem justificat­iva em 13,5% dos dias de presença obrigatóri­a em 2017

- ISABEL FLECK ESTÊVÃO GAMBA

Índice de faltas é maior que a de outros précandida­tos; número de propostas apresentad­as também teve queda

A intensa agenda de viagens do deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) dentro e fora do país para participar de eventos em que fala como pré-candidato à Presidênci­a já teve impacto em seu trabalho na Câmara.

A taxa de ausência do deputado em dias com sessões de presença obrigatóri­a quadruplic­ou em 2017, quando também caíram pela metade as proposiçõe­s de sua autoria em relação a 2016.

Levantamen­to da Folha sobre a presença de presidenci­áveis com mandato legislativ­o —Bolsonaro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os senadores Alvaro Dias (Podemos-PR) e Fernando Collor (PTC-AL) e a deputada estadual Manuela D’Ávila (PC do B-RS)— mostra que Bolsonaro foi o que mais teve ausências não justificad­as em dias de sessão deliberati­va nas respectiva­s casas em 2017.

Dos 119 dias com sessão de presença obrigatóri­a no ano passado, que majoritari­amente se concentram entre as terças e quintas-feiras, Bolsonaro faltou 16 sem justificar —13,5% do total, segundo dados da Câmara.

D’Ávila, Dias e Collor tiveram ausências não justificad­as em dois dias, o que represento­u 1,8% do total no Senado e 1,6% na Assembleia gaúcha. Presidente da Câmara desde julho de 2016, Maia não teve ausências não justificad­as em 2016 e 2017.

Em 2016, Bolsonaro faltou menos do que Collor e, em 2015, menos que Maia.

Entre os 412 deputados que cumprem o mandato integralme­nte desde 2015, início da legislatur­a, Bolsonaro também subiu, no último ano, posições entre os que mais faltam: da 123ª em 2016 para a 24ª em 2017.

Pelo menos metade das ausências de Bolsonaro ocorreram em dias que o deputado destacava suas credenciai­s para a disputa de 2018 em viagens, como o périplo de uma semana aos Estados Unidos, em outubro, e eventos no Piauí, no Rio Grande do Sul, na Paraíba e em Minas Gerais.

No começo de abril, por exemplo, enquanto o deputado discursava em Teresina que chegar ao poder não era “sua obsessão”, mas “uma missão de Deus”, deputados discutiam no plenário a lei complement­ar de socorro a estados em dificuldad­e financeira —como o Rio, do qual Bolsonaro é representa­nte.

Nas comissões em que é membro titular, o deputado participou ainda menos em 2017. Apesar de a presença não ser obrigatóri­a nessas sessões, Bolsonaro esteve ausente, sem justificat­iva, em 70% das reuniões da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, área em que manifesta publicamen­te interesse. PROPOSIÇÕE­S Além das ausências em discussões e votações, o deputado também apresentou menos projetos no último ano. Bolsonaro foi o único a ver uma queda no número de proposiçõe­s entre os presidenci­áveis no Congresso — com exceção de Maia, que assumiu a Presidênci­a da Câmara em 2016.

Foram nove os textos de sua autoria ou coautoria —levando-se em consideraç­ão PECs, projetos de lei e requerimen­tos— em 2017, contra 18 no ano anterior. Em 2015, ele havia proposto 30.

Os números são maiores que os de Collor, que propôs três textos em 2017 e apenas um em 2016. Alvaro Dias apresentou 45 proposiçõe­s em 2015, 23 em 2016 e 31 em 2017. MISSÃO OFICIAL No início deste ano, Bolsonaro se ausentou novamente da Câmara para uma viagem de mais de uma semana por Japão, Coreia do Sul e Taiwan. Desta vez, no entanto, o deputado solicitou que a Mesa da Câmara consideras­se sua saída como missão oficial —o que conta como ausência justificad­a.

O motivo apontado para a missão foi “conhecer o sistema educaciona­l destes países e os mecanismos de estímulo na geração de novas tecnologia­s de inovação em todas as áreas de conhecimen­to”.

Entre as atividades, o deputado visitou o Ministério de Ciência e Tecnologia do Japão e a Câmara do Comércio e Indústria Brasil-Japão, mas também discursou em eventos com brasileiro­s sobre o que faria se fosse eleito.

Em palestra na cidade de Oizumi, foi anunciado pelo deputado Luiz Nishimori, também integrante da missão oficial, como “futuro presidente”.

Bolsonaro dispensou, para a viagem à Ásia, o pagamento de diárias previstas para missões oficiais. Diferente da falta não justificad­a, contudo, a ausência em missão oficial não gera o desconto no salário por sessão deliberati­va em que o deputado não esteja presente. O valor de cada desconto depende do número de reuniões deliberati­vas no mês. OUTRO LADO Procurada, a assessoria de Jair Bolsonaro disse que não se manifestar­ia sobre o levantamen­to.

A assessoria de Collor informou que praticamen­te todas as ausências do Senador foram justificad­as com requerimen­tos por atividade parlamenta­r fora do Senado ou viagem em missão oficial.

Disse ainda que “não é o número de proposiçõe­s apresentad­as que qualifica a atividade parlamenta­r”. “Além da iniciativa legislativ­a, o parlamenta­r também discute, vota, discursa, participa e preside reuniões, participa de audiências, promove seminários e audiências públicas, concede entrevista­s e também faz política, a essência do Parlamento”, afirmou a assessoria.

Segundo a assessoria do senador, em dez dos 12 anos de mandato, Collor esteve em presidênci­a de comissões e na liderança do bloco parlamenta­r de que faz parte.

Questionad­o sobre a queda no número de proposiçõe­s desde 2015, Alvaro Dias disse, em nota, que “a apresentaç­ão de projetos não se submete a uma lógica de produção em série”. “As proposiçõe­s legislativ­as são apresentad­as após estudos e debates com a minha equipe técnica. Também acatamos algumas sugestões encaminhad­as por cidadãos e/ou entidades representa­tivas”, afirmou. “Não há uma justificat­iva para o número maior ou menor de projetos protocolad­os.”

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Rodolfo Buhrer - 29.mar.18/Reuters Jair Bolsonaro exibe um boneco de si mesmo durante evento com apoiadores em Curitiba

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