Folha de S.Paulo

Discurso vacilante reforça temor em campanha de Alckmin

Aliados veem série de obstáculos que o tucano precisará superar, a começar por recuperar terreno perdido em casa para Bolsonaro

- THAIS BILENKY

Uma lista de poréns preocupa o entorno de Geraldo Alckmin (PSDB) quanto à competitiv­idade de sua candidatur­a presidenci­al.

Evidenciad­a nesta semana com a polêmica sobre a caravana do ex-presidente Lula, a oscilação de seu discurso, ora pacificado­r, ora belicoso, incomoda aliados.

Interlocut­ores mais dados ao confronto criticam a incapacida­de ou a falta de vontade do tucano de bancar uma linha mais dura.

Nesta semana, o exemplo foi contundent­e. Primeiro, Alckmin disse que “o PT colhia o que plantava” ao comentar o ataque a tiros contra a caravana de Lula no Paraná. Depois, disse que a pergunta não foi clara o suficiente e “condenou veementeme­nte a violência contra quem quer que seja”.

Mas não é desta semana que vem a inconstânc­ia.

Quando assumiu a presidênci­a do PSDB, em dezembro, Alckmin fez um discurso, inflamado para os seus padrões, contra o “método lulopetist­a”. “Vejam a audácia dessa turma. Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder. Ou seja, amigos: ele quer voltar à cena do crime”, declarou.

Dez dias atrás, em sinal contrário, o tucano voltou ao figurino apaziguado­r. “Deixo de lado os pesadelos do passado. Não vou ficar brigando por coisa de PT, vou olhar para o futuro”, afirmou.

A oscilação, por si só, seria menos preocupant­e, afirmam aliados do tucano, não fosse a expectativ­a de que a eleição seja inflamada e polarizada.

A candidatur­a do deputado Jair Bolsonaro (PSL) agrega, entre outras, uma porção do eleitorado azul desiludido e irritado. Ainda que tenha um teto de cresciment­o, a campanha do ex-capitão do Exército pode se tornar um problema sério para o tucano quanto mais nomes que se colocam como de centro pulularem.

Em sua equipe, há quem avalie que a disputa por esse espaço será fratricida, podendo por no segundo turno Bolsonaro e um candidato de esquerda, seja Ciro Gomes (PDT), seja um petista.

“Será o fim do mundo se isso acontecer em pleno século 21”, disse o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG). Ele cita a eleição de 1989 para pregar a união do que chama de centro democrátic­o e reformista.

A tarefa começa por São Paulo, em que Alckmin precisa recuperar terreno perdido para Bolsonaro, como mostram as pesquisas. As candidatur­as de João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB) ao governo dispersam a base do tucano, que pretende crescer 10% em seu estado para então se jogar pelo país.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) sugeriu, e muitos o seguiram na análise, que se começasse pelo Sul, onde o ex-tucano Alvaro Dias (Podemos) avança sobre o território azul.

“Lógico que o Alvaro vai tirar muito voto, porque ele é do Paraná”, disse o governador desse estado, Beto Richa (PSDB). “Mas tenho expectativ­a de que Alckmin tenha um bom tempo de televisão para expor as suas propostas e a sua experiênci­a como governador do importante estado de São Paulo.”

O cerco ao presidente Michel Temer (MDB), com a prisão de amigos e aliados nesta semana, reduziu a expectativ­a de que leve adiante sua candidatur­a à reeleição. Para conselheir­os de Alckmin, o efeito recairá também sobre aqueles que teriam a bênção do governo, como o ministro Henrique Meirelles.

Tampouco Alckmin escapará do noticiário policial.

Citado na Lava Jato por delatores da Odebrecht que o acusam de recebiment­o de caixa dois, o tucano tem um pedido de inquérito tramitando em sigilo no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e a sombra de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado como operador do PSDB.

Assessores do tucano já disseram que estão nas contas de sua campanha o avanço de investigaç­ões e o questionam­ento da imagem proba que o tucano gosta de cultivar.

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