Folha de S.Paulo

Confrontos em Gaza deixam 16 mortos

Primeiro dia de protestos de palestinos contra Israel perto da fronteira termina com mais de mil pessoas feridas

- DANIELA KRESCH

Palestinos acusam Israel de atacar ato pacífico; israelense­s dizem que Hamas encena provocação FOLHA,

A fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel se transformo­u em um campo de batalha nesta sexta-feira (30), no primeiro dia de protestos contra Israel que palestinos prometem realizar pelas próximas seis semanas.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, 16 palestinos morreram depois de ser atingidos por atiradores israelense­s no momento em que se aproximara­m da cerca na fronteira. Mais de mil ficaram feridos. O Exército israelense afirmou não ter como confirmar os números.

A Grande Marcha do Retorno, como a manifestaç­ão foi chamada pelo grupo extremista Hamas, que controla Gaza desde 2007, começou pela manhã, após dias de preparação e divulgação. Os organizado­res montaram acampament­os em dez pontos na fronteira, a uma distância de 500 metros da cerca.

Desde cedo, famílias intei- ras começaram a chegar com bandeiras palestinas para exigir o retorno de milhões de refugiados às terras das quais seus parentes fugiram ou foram expulsos em meio à guerra que se seguiu à independên­cia de Israel, em 15 de maio de 1948.

“Não há alternativ­a para a Palestina e não há solução a não ser o retorno!”, afirmou o líder do Hamas, Ismail Hanyia, em discurso. Os israelense­s afirmam que cerca de 17 mil pessoas participar­am do protesto. Os palestinos falam em mais de 50 mil.

Mas o que os organizado­res prometiam ser uma “marcha não violenta” em direção à fronteira se transformo­u em um cenário de caos, confrontos e mortes.

Enquanto mulheres, crianças e idosos ficaram, em ge- ral, no acampament­o, centenas de jovens palestinos desafiaram as tropas israelense­s ao se aproximare­m da cerca, lançando coquetéis molotov, pneus incendiado­s e pedras. Quatro deles conseguira­m colocar bombas em um dos pontos da barreira.

Os soldados israelense­s respondera­m primeiro com gás lacrimogên­eo e com balas de borracha, mas usaram munição letal e atiradores de elite contra os que chegaram mais perto.

A orientação do comando militar era a de evitar que palestinos se infiltrass­em em solo israelense, principalm­ente em um dos muitos vilarejos adjacentes à fronteira.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e seu partido, o Fatah, que governa a Cisjordâni­a, não participar­am da organizaçã­o do protesto, mas, diante da comoção entre os palestinos, declararam um dia de luto oficial pelos mortos.

Em meio às hostilidad­es, outra batalha era travada na mídia. Líderes palestinos acusavam Israel de atacar civis em protesto não violento. Já os israelense­s diziam que os palestinos haviam encenado uma provocação, colocando mulheres e crianças em risco.

Em tuítes voltados à imprensa internacio­nal, David Keys, porta-voz do primeiromi­nistro de Israel, Binyamin Netanyahu, escreveu: “Breve lembrança aos jornalista­s que cobrem a manifestaç­ão do Hamas [...]: o Hamas assassina civis, advoga um genocídio, prega nossa destruição e, agora, está tentando se infiltrar em Israel. Nada disso fomenta a paz”.

Em contrapart­ida, Saeb Erekat, negociador-chefe dos palestinos, tuitou: “Lamentamos os mártires de nosso grande povo e dizemos a suas famílias que nosso povo não se renderá. A consciênci­a global deve reconhecer que a história, em última instância, apoiará os direitos dos povos, e a terra está no centro desses direitos”.

A marcha em direção à fronteira aconteceu num dia religioso importante em Israel. Em Jerusalém, milhares de peregrinos encenaram a Paixão de Cristo às vésperas da Páscoa. E os judeus de Israel (75% da população) celebraram o Pessach, a Páscoa judaica, com ceias familiares.

Os organizado­res da Grande Marcha prometem uma longa sequência de protestos, culminando num ato em 15 de maio, quando se comemora o 70º Dia da Independên­cia de Israel, chamado pelos palestinos de “Nakba” (a “tragédia”).

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Bombas de gás lacrimogên­eo atingem manifestan­tes perto da fronteira entre Faixa de Gaza e Israel, próximo à Cidade de Gaza; violência resultou na morte de 16 palestinos na sexta
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Adel Hana/Associated Press Palestinos carregam jovem ferido em protesto perto de Khan Younis, na Faixa de Gaza

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