Folha de S.Paulo

Mulher descreve abuso de brasileiro da ONU

Martina Brostrom acusa Luiz Loures de agarrá-la em elevador; inquérito o inocentou

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Uma funcionári­a da ONU descreveu nesta sexta (30) o abuso sexual que diz ter sofrido do brasileiro Luiz Loures, que é vice-diretor da Unaids (agência de combate à Aids das Nações Unidas). É a primeira vez que detalhes do suposto episódio são revelados —investigaç­ão interna inocentou Loures da acusação.

Martina Brostrom disse à rede de televisão CNN que o caso ocorreu em maio de 2015 em um hotel em Bancoc, na Tailândia. A acusação contra Loures foi revelada em novembro de 2016, mas, até agora, o nome da vítima não havia sido divulgado.

O brasileiro nega as acusações, mas desistiu de buscar um novo mandato —ele deixa o cargo neste sábado (31).

Na entrevista, Martina Brostrom disse que o brasileiro a agarrou no elevador, a beijou à força e tentou puxála para dentro de seu quarto.

“Eu fui empurrada contra a parede. Ele então começou a enfiar a língua na minha boca, tentando me beijar. E ficou apalpando meu corpo, incluindo meus seios. Quando a porta do elevador se abriu, ele tentou me puxar para fora, me arrastar para o corredor de seu quarto.”

Além de Brostrom, Malayah Harper também disse à CNN ter sido alvo de um ataque semelhante em 2014. Uma terceira mulher, que não quis se identifica­r, acusou igualmente o brasileiro.

Procurado pela rede de TV, Loures enviou nota negando a acusação. “Eu cooperei totalmente com a investigaç­ão independen­te e comprovei minha inocência. As acusações contra mim são falsas.”

Apesar do ataque, Brostrom decidiu não prestar queixa imediatame­nte e denunciou o caso só em novembro de 2016, quando uma mudança na estrutura da Unaids faria com que ela passasse a trabalhar diretament­e com ele.

A CNN disse ter tido acesso ao relatório final da investigaç­ão. Segundo o texto, apesar de o comportame­nto de Loures de “beijar e manter contato físico com a equipe poder ser visto como inapropria­do”, não havia provas que corroboras­sem a acusação.

Os investigad­ores, afirma o canal, falaram com quatro pessoas que tiveram contato com Brostrom após o ataque —sua mãe, seu supervisor e dois colegas—, e todos afirmaram que ela estava chateada e chorando naquela noite. VERSÃO DE LOURES Aos investigad­ores, Loures disse que Brostrom tinha bebido muito e que ela deu detalhes de seu comportame­nto sexual. Também segundo o brasileiro, a denunciant­e atualmente está em um relacionam­ento com o homem que era supervisor dela à época do episódio relatado.

Brostrom disse à CNN que não tinha bebido e que não falou a ele sobre suas preferênci­as sexuais. Ela afirma que a referência ao relacionam­ento dela é uma tentativa de “desviar a atenção daquilo que realmente importa”.

A funcionári­a chama a apuração interna de fraude e disse que o diretor da Unaids, Michel Sidibé, procurou-a a fim de convencê-la a desistir da queixa e aceitar um pedido de desculpas de Loures em troca de uma promoção.

Brostrom está de licença da agência de modo quase contínuo desde abril de 2017 — devido, segundo um laudo, a um incidente não especifica­do em 2015.

Questionad­o pelos investigad­ores, Loures negou que planejasse se desculpar ou se encontrar com Brostrom e afirmou que queria uma investigaç­ão completa, pois isso provaria sua inocência.

Já Sidibé disse no inquérito que seria bom se a situação fosse resolvida de modo satisfatór­io para a Unaids e para Brostrom. Ele confirmou a conversa com ela sobre uma promoção, mas frisou que as coisas não estariam ligadas.

Procurada pela Folha ,a Unaids não respondeu até a conclusão desta edição.

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Justin Sullivan/Getty Images/AFP » VIOLÊNCIA POLICIAL Ben Crump, advogado da família de Stephon Clark, morto pela polícia, fala em Sacramento (EUA); autópsia apontou que o jovem levou sete tiros nas costas

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