Folha de S.Paulo

Brasil perderia R$ 1,1 bi com taxa ao aço

Estudo do Ipea mostra que medida de Trump levaria a uma queda de 1,2% no nível de atividade do setor do país

- FLAVIA LIMA

EUA podem tarifar insumo siderúrgic­o em 25%, mas negociam atualmente exceções com governo Temer

A aplicação pelos americanos de uma sobretaxa ao aço importado afetaria pelo menos 13% das vendas externas do insumo brasileiro e causaria perdas de US$ 350 milhões (cerca de R$ 1,1 bilhão) em relação ao volume exportado no ano passado.

Os dados são de estudo inédito do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada), obtido pela Folha.

A medida anunciada pelo presidente Donald Trump levaria ainda a uma queda de 1,2% no nível de atividade no setor brasileiro e afetaria em especial a produção do aço semimanufa­turado —as chapas usadas pelo indústria automotiva, por exemplo.

O estudo considera os efeitos integrais da medida anunciada pelos EUA no início de março, que determina tarifa de 25% sobre as importaçõe­s americanas do produto.

Após divulgar a medida, o governo Trump suspendeu seus efeitos até 30 de abril para negociaçõe­s com um grupo de países, entre os quais o Brasil. Hoje a taxa é de 0,9%.

Além do Brasil, os mais afetados são Japão, China e países da União Europeia, como a Alemanha. Canadá e México ficaram livres, e a Coreia do Sul caminha para chegar a um acordo com os EUA.

Para calcular o impacto da sobretaxa para o Brasil, o autor da nota técnica e coordenado­r de Relações Econômicas Internacio­nais do Ipea, Fernando Ribeiro, levou em conta não só o total de aço exportado pelo Brasil aos americanos mas também o quanto essas vendas representa­m na produção doméstica, além do mix de produtos exportados.

As exportaçõe­s de aço do Brasil aos americanos somaram US$ 2,63 bilhões em 2017.

O valor represento­u 33% de todo o aço exportado pelo Brasil no mesmo ano.

O pico das vendas aos americanos, no entanto, foi registrado em 2014. Naquele ano, US$ 2,98 bilhões foram vendidos aos EUA, ou 44% das vendas totais do produto.

No valor da produção doméstica, diz Ribeiro, as exportaçõe­s de aço para os EUA tinham participaç­ão de quase 10%. Como medida de comparação, toda a exportação de aço brasileira correspond­e a 22% da produção local do produto.

Outro ponto destacado pelo estudo se refere ao mix de produtos exportados pelo Brasil. A medida americana afeta laminados planos, barras, fios e perfis, tubos, semimanufa­turados e aço inoxidável. Os semimanufa­turados têm destaque absoluto em tudo aquilo que vai para os americanos.

Do total vendido pelo Brasil para os EUA, 70% são de aço semimanufa­turado, usado em especial pela indústria automotiva. Nas vendas externas totais de aço, essa fatia é um pouco menor (50%).

Concretiza­da a sobretaxa anunciada pelos EUA, diz Ribeiro, a medida pode ter um impacto significat­ivo sobretudo nas indústrias locais produtoras de semimanufa­turados de aço. EFEITO MAIOR O efeito da sobretaxa americana sobre as exportaçõe­s brasileira­s poderia, no entanto, ser duas vezes maior.

Isso ocorreria num cenário de estresse, no qual outros países relevantes para as importaçõe­s de aço americanas conseguiri­am, via acordos bilaterais, ficar de fora das medidas.

Único atingido, o Brasil perderia mercado para os outros concorrent­es, como Japão e Alemanha —além de Canadá e México, hoje já excluídos da sobretaxa.

Nesse caso, a queda das exportaçõe­s do setor de aço brasileiro poderia chegar a 26% ou o equivalent­e a US$ 700 milhões (R$ 2,3 bilhões), tendo como base o que foi exportado em 2017, diz Ribeiro.

Já a atividade industrial no setor teria queda de 2,6%.

“Mas é menos provável que só o Brasil fique sujeito às medidas”, diz o pesquisado­r do Ipea, para quem o impacto deve ficar mais próximo de US$ 350 milhões.

As medidas anunciadas pelo governo Trump também estabelece­ram tarifa de 10% sobre as importaçõe­s de alumínio. Os efeitos disso sobre as vendas externas brasileira­s não seriam relevantes.

Segundo Ribeiro, as exportaçõe­s brasileira­s para os EUA de alumínio somaram US$ 61,8 milhões (R$ 205 milhões) em 2017, ou 11% do total de alumínio exportado pelo Brasil.

Na produção nacional, aponta o estudo, as exportaçõe­s dos produtos de alumínio para americanos têm uma participaç­ão quase insignific­ante.

No caso do aço, diz Ribeiro, é curioso que, a despeito das reclamaçõe­s dos americanos, não haveria como argumentar que os EUA estão sendo prejudicad­os por um surto de importaçõe­s.

As compras de aço dos EUA oscilaram na faixa de US$ 30 bilhões ao ano entre 2015 e 2017, após atingir o recorde de US$ 41 bilhões em 2014. O país responde por 9% das importaçõe­s mundiais.

O emprego do setor de fato caiu, mas em razão de ajustes feitos pelas empresas. > Sua fabricação pode ser dividida em quatro etapas: preparação da carga, redução, refino e laminação > Ele é aplicado em veículos, utensílios domésticos, embalagens, cabos elétricos, entre outros

Tarifa dos EUA pode gerar perdas de R$ 1,1 bilhão na exportação do aço brasileiro

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