Folha de S.Paulo

ENERGIA Livro defende inovação para ampliar o uso de fonte solar

Limitações tecnológic­as podem levar a beco sem saída, escreve autor

- ED CROOKS

Há algo de ligeiramen­te mágico na energia solar. A maioria dos métodos de geração de eletricida­de recorre a equipament­o rotativo, imãs e bobinas para induzir uma corrente. Os painéis solares geram eletricida­de sem precisar de partes móveis.

Por décadas, parecia que a esotérica ciência do efeito fotovoltai­co teria aplicação limitada para usos especializ­ados, como ocorre nos satélites. Mas os painéis solares atuais são um produto para o mercado de massa e estão se espalhando pelos telhados de lojas e casas e florescend­o em grandes centrais de geração de energia.

Varun Sivaram, que pesquisa sobre ciência e tecnologia no Conselho de Relações Exteriores, em Nova York, estudou a revolução solar. O que ele viu tanto o entusiasmo­u quanto o preocupou.

Ele escreve que a energia solar pode ter um futuro brilhante, e que talvez atenda à maior parte da demanda mundial por eletricida­de, antes do fim do século. Mas também alerta para o fato de que seu desenvolvi­mento pode chegar a um beco sem saída, por causa de tecnologia­s falhas que limitarão seu cresciment­o.

Seu livro “Taming the Sun” (Domando o Sol) é tanto o melhor panorama disponível quanto à situação atual do setor quanto um plano de rota sobre como ele pode buscar um futuro mais brilhante.

Os escritores que tratam da energia renovável tendem a recair em duas categorias: os interessad­os em desmascara­r um setor que veem como grande trapaça e os visionário­s que descrevem um futuro deslumbran­te, mas são vagos quanto aos detalhes de como chegar lá.

Sivaram diz que desejava oferecer uma visão equilibrad­a, e foi o que ele fez em seu estudo detalhado sobre as promessas e os percalços da energia solar.

É difícil resistir ao seu argumento de que apenas a inovação permitirá realizar todo o potencial dela.

O setor floresceu nos últimos dez anos como resultado de apoio governamen­tal e de uma queda de custos que o tornou competitiv­o contra os combustíve­is fósseis.

O que tornou possível esse progresso não foi uma ruptura tecnológic­a —células de silício estão em uso desde a década de 1950—, mas sim a fabricação em alto volume, especialme­nte na China, que fez o setor se beneficiar de economia de escala.

Sivaram teme que, na década de 2030, os painéis solares em sua configuraç­ão atual atinjam limites econômicos e técnicos. INOVAÇÃO A solução que ele defende é a inovação, nas redes de eletricida­de, nas estruturas financeira­s e na tecnologia solar.

Os verdadeiro­s heróis do livro emergem apenas na metade do texto, quando ele nos apresenta à perovskita —um mineral cristalino que é “o líder inconteste” entre as tecnologia­s solares emergentes— e a outras ideias para alternativ­as superiores aos painéis de silício que se tornaram o padrão do mercado.

Não se pode confiar apenas no setor de capital para empreendim­entos como fonte de apoio de que essas novas tecnologia­s precisam, escreve Sivaram. “A maior prioridade do governo dos EUA deveria ser elevar dramaticam­ente as verbas para pesquisa e desenvolvi­mento para tecnologia­s solares inovadoras.”

Essa recomendaç­ão acarreta o risco de fazer da busca da perfeição um obstáculo no caminho do viável.

Ele descreve um decepciona­nte voo de helicópter­o por sobre um vasto complexo de painéis solares no deserto de Mojave (Califórnia), quando percebeu que não havia maneira de colocar em operação as inovadoras células em que trabalhava em seu laboratóri­o em Oxford com a rapidez e a escala necessária­s.

Os painéis de silício podem não ser ideais, mas são abundantes e baratos. A história da Solyndra, companhia california­na que propunha uma tecnologia solar inovadora, recebeu apoio do governo Obama, mas terminou por se provar um fiasco comercial e de engenharia, é um exemplo das dificuldad­es que um governo enfrenta para apoiar a inovação.

“Taming the Sun” oferece um alerta importante sobre os riscos que o setor enfrentará se persistir no mesmo caminho. Quem deseja compreende­r como a transição dos combustíve­is fósseis para a energia renovável pode acontecer deveria ficar atento à hipótese de Sivaram. PAULO MIGLIACCI AUTOR Varun Sivaram EDITORA The MIT Press QUANTO R$ 94,55 (370 págs.) DESIGUALDA­DE Discrimina­tion and Disparitie­s AUTOR Thomas Sowell EDITORA Basic Books QUANTO R$35 (livro digital; 192 págs.)

Professor de Stanford (EUA) analisa motivos que levam a desigualda­des econômicas entre indivíduos e nações. Aponta ser impossível atribuí-las a um fator prepondera­nte. ECONOMIA GLOBAL China’s Great Wall of Debt AUTOR Dinny McMahon EDITORA Houghton Mifflin Harcourt QUANTO R$ 66,60 (livro digital; 288 págs.)

Jornalista aponta problemas econômicos estruturai­s da China, em especial seu alto endividame­nto. Ilustra sua análise com histórias de cidadãos.

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Lucy Nicholson -28.mar.18/Reuters Conjunto de painéis solares em deserto na Califórnia (EUA); autor defende mais verba governamen­tal para pesquisa

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