Folha de S.Paulo

Deserto vira cemitério de veículos da Volkswagen

- FERNANDA EZABELLA

Carros foram recomprado­s após escândalo do diesel

No deserto california­no, dezenas de aviões descansam em paz após o último pouso de suas carreiras no aeroporto de logísticas de Victorvill­e, cidade de 120 mil habitantes a 140 km de Los Angeles.

Desde 2017, milhares de automóveis se juntaram ao “cemitério de aviões”, formando um gigantesco estacionam­ento de carros coloridos no meio do deserto de Mojave. A imagem não é miragem e pode ser vista no site Google Earth.

A instalação é uma das 37 que a Volkswagen alugou nos EUA para guardar os veículos que comprou de volta dos consumidor­es após o escândalo da fraude nos testes de poluentes de 2015. Um assessor da empresa que administra o terreno disse que o lote tem capacidade para 21 mil carros.

Em 2015, a montadora admitiu uso de software ilegal para trapacear nos testes de emissões nos EUA, afetando quase meio milhão de carros.

A Volks criou um programa de devolução dos veículos e disse que 340 mil consumidor­es haviam demonstrad­o interesse. No fim de 2017, ainda gastava US$ 3 bilhões para consertar os motores.

“Esses veículos estão sendo armazenado­s de maneira provisória e passam por manutenção de rotina para garantir sua operaciona­lidade e qualidade a longo prazo”, informou a Volks dos EUA num comunicado à Folha.

A empresa também afirmou que os carros devem voltar ao comércio ou serem exportados quando forem aprovadas as modificaçõ­es de emissões. “Veículos que não podem ser alterados por causa da idade ou condições ou outras razões serão reciclados de forma responsáve­l.”

A crise, que em 2015 provocou a renúncia do presidente mundial da empresa, é a maior já enfrentada nos 80 anos de história da montadora. CLIMA IDEAL Por causa do clima quente e seco, além da quantidade quase sem fim de terrenos disponívei­s, a região california­na é perfeita para armazenar máquinas. O aeroporto Southern California Logistics, que não opera voos comerciais, tem 288 aeronaves, algumas para serviços de manutenção, outras para reciclagem, aposentado­ria ou revenda.

O “cemitério de aviões” é usado por diversas companhias aéreas, como United, Air China e Lufthansa.

Os automóveis começaram a chegar no início de 2017. É possível ver o estacionam­ento da pequena estrada que separa Victorvill­e e Adelanto, uma “cidade de possibilid­ades ilimitadas”, como diz seu letreiro de boas-vindas.

Uma grade coberta com tecido preto protege a propriedad­e, que se estende até a estrada perder o asfalto e virar puro deserto. Ao longe, é possível ver alguns aviões.

Na parte asfaltada, há uma comunidade com casas simples, trailers e um restaurant­e mexicano. O motorista desemprega­do Michael Robuck, 43, mora na região há 30 anos e relembra a bagunça quando os veículos surgiram.

“A gente nem se dá conta dos aviões, mas dos carros sim. Foram meses e meses de caminhões trazendo carros.”

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