Folha de S.Paulo

Imprensa

-

O debate mudou e talvez seja hora de superar velhos estereótip­os. A agenda de esquerda entregaria desenvolvi­mento e os liberais descuidari­am do social ao propor a redução do Estado.

A experiênci­a nacional desenvolvi­mentista fracassou. O Brasil cresceu menos do que o resto do mundo a partir de 2011. A maioria dos setores apoiados pelo governo enfrenta graves problemas desde 2013, quando começou a cair a taxa de investimen­to. Em 2014, houve aumento dos gastos públicos e o resultado foi a desacelera­ção da nossa economia enquanto os demais países cresceram 3,6%.

Os argumentos tortuosos de que não há um problema na Previdênci­a foram desmoraliz­ados pelos fatos. A maior transparên­cia dos benefícios dos servidores públicos revelou que muitos recebem mensalment­e mais de R$ 30 mil e estão no grupo dos 1% mais ricos em um país com renda média mensal abaixo de R$ 3.000. Curiosamen­te, são defendidos por vários que se definem como de esquerda.

Infelizmen­te, tivemos que esperar a degradação dos serviços públicos, como em segurança, para reconhecer que os estados atravessam grave crise fiscal decorrente dos gastos com folha de pagamento.

Há uma nova agenda de centro. Reformas duras são necessária­s na Previdênci­a e nos benefícios dos servidores. A baixa qualidade dos serviços públicos está na pauta do dia, inclusive para reduzir a desigualda­de de renda. As políticas de proteção setorial devem ser revistas para estimular a competição, aumentar a produtivid­ade e viabilizar maior cresciment­o econômico.

O contraditó­rio requer a análise cuidadosa das propostas, caso contrário as diversas faces do centro ficam com cara de mais do mesmo. Já os extremos propõem o inusitado, como o Estado indutor com equilíbrio fiscal ou o regime de capitaliza­ção para a Previdênci­a. Precisam explicar como a conta fecha.

Quanto cada grupo será chamado a contribuir para superar o desafio de um país que prometeu mais do que pode entregar? Como serão tratados os trabalhado­res dos setores que se revelaram inviáveis? A regra tributária será uniformiza­da para os diversos setores? Como reduzir a violência? A campanha eleitoral merece mais do que bravatas ou argumentos vagos.

As últimas campanhas eleitorais pareceram jogo de gato e rato. Todos se diziam desenvolvi­mentistas. A polarizaçã­o superficia­l transformo­u divergênci­as sobre as propostas de políticas em troca de insultos. A imprensa caçava os ratos.

O novo debate requer um jornalismo atento aos dados e às evidências. A imprensa crítica e informada é a melhor aliada da democracia contra a repetição da campanha de 2014, que vendeu fantasia e entregou desastre.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil