SÉRIE DA NETFLIX SOBRE A OPERAÇÃO LAVA JATO O mecanismo agradece
Esperava que formadores de opinião da esquerda fossem sair do estupor ideológico e combater o mecanismo de corrupção do mundo real
A série “O Mecanismo” é uma dramatização inspirada em um conjunto de acontecimentos reais, apresentada de forma a ilustrar uma tese. Eis a tese, em cinco enunciados:
a) No Brasil, a corrupção não ocorre esporadicamente; ela é o mecanismo estruturante da política e da administração pública, um mecanismo que opera nos municípios, nos estados e no governo federal; no Executivo e no Legislativo, e também nas cortes judiciais constituídas por indicações políticas.
b) As campanhas de todos os grandes partidos do Brasil são financiadas por empresas que trabalham para o Estado. Uma vez eleitos, políticos desses partidos montam coalizões com base na distribuição de cargos que auferem controle sobre o orçamento público. Quanto mais poderoso for um político, maior o quinhão que lhe cabe.
c) O Estado, assim loteado, contrata as mesmas empresas que financiam as campanhas políticas dos grandes partidos, superfaturando orçamentos.
d) Parte da fatura se transforma em financiamento de campanha para o próximo ciclo eleitoral, e parte vira caixa dois e propina.
e) O mecanismo não tem ideologia; ele opera nos governos de esquerda e de direita.
Na série “O Mecanismo”, assumimos que esses enunciados são verdadeiros. Isso é fato ou ficção? O que aconteceria em um país onde o mecanismo operasse de fato? No mínimo, três coisas: 1) A polícia e a Procuradoria se deparariam constantemente com casos de corrupção sistêmica.
2) A classe política criaria legislação específica para impedir que as investigações desses casos gerassem punições para seus membros, pois, na ausência de legislação assim, o mecanismo não sobreviveria.
3) Se alguma contingência histórica permitisse que uma investigação de corrupção fosse levada a cabo nesse país, em uma área de orçamento público significativo, a política como um todo seria implicada na investigação. O Brasil satisfaz essas condições? Não vou perder tempo analisando as duas primeiras. Sabemos que sim. No que tange à terceira, olhemos para a Lava Jato e a Petrobras.
Que contingencia histórica permitiu que a Lava Jato acontecesse? Claramente, foi o fato de uma pessoa sem nenhuma experiência política ter chegado à Presidência. Só pode ter sido por falta de traquejo que Dilma Rousseff sancionou, em 2013, uma emenda à lei de delações premiadas que permitiu que acordos de delação fossem celebrados com doleiros, empreiteiros e administradores públicos.
Foram acordos desse tipo que revelaram um extenso esquema de corrupção na Petrobras, envolvendo as maiores lideranças políticas do país, inclusive o patrono político de Dilma, Lula da Silva.
Hoje, a Lava Jato tem US$ 11,5 bilhões em recuperação judicial, sendo R$ 3,2 bilhões já bloqueados. Se não há corrupção sistêmica, de onde veio esse volume de dinheiro?
Ora, é inegável que o mecanismo opera no Brasil, e é inegável que os grupos políticos de Temer e de Lula se beneficiaram dele. Sendo esse o caso, qual o motivo para os violentos e desonestos posts que alguns formadores de opinião de esquerda dispararam contra os atores e autores da série “O Mecanismo”?
Para entender sua natureza, precisamos olhar o que ocorreu com a opinião pública pós-Lava Jato.
Sabendo que O Mecanismo existe, podemos afirmar que:
a) Se a nova lei de delações premiadas tivesse sido sancionada com o PSDB no poder, os políticos denunciados teriam sido Aécio, Serra e FHC. Mas, como a lei foi sancionada com PT e PMDB no poder, os políticos denunciados foram Palocci, Lula, Cunha, Cabral e Temer.
b) A mídia de direita usou essa contingência histórica para atacar a esquerda, como se a direita não fosse corrupta.
c) O PT usou essa contingência para acusar a Lava Jato de partidarismo, como se não fosse inevitável que petistas fossem pegos primeiro, dado que estavam no poder.
Criou-se, assim, um ambiente irracional e polarizado, em que o dogmatismo ideológico da esquerda radical e o cinismo pragmático da direita fisiológica passaram a trabalhar juntos para negar o inegável, o fato de que todas as lideranças políticas dos grandes partidos brasileiros são corruptas. Hoje, vemos os formadores de opinião de esquerda e os membros da direita fisiológica de mãos dadas, pressionando o STF para cancelar a prisão após condenação em segunda instância. Afinal, para a esquerda isso garantiria a impunidade de Lula; para a direita, a de Aécio, de Temer, de Jucá... O mecanismo, é claro, agradece.
Confesso que esperava mais dos formadores de opinião da esquerda. Pensei que em algum momento da história fossem acordar do estupor ideológico e ajudar pessoas de bem na luta contra o mecanismo que opera no mundo real, em vez de se associar a ele para lutar contra o mecanismo exposto na Netflix. JOSÉ PADILHA,
Caro Sérgio Rodrigues, perdão, mas a palavra “minete” já fez parte da língua portuguesa pelo menos em Santos, minha cidade natal (“O minete e a língua”, Cotidiano, 29/3). Debruçada numa janela da rua da Constituição, lá por volta de 1958/60, uma profissional oferecia seus serviços repetindo, monotonamente: “Chicharim, minete, buchê...”. Nós, meninos santistas, sabíamos que, num francês arrevesado, a moça se propunha a fazer chicharim, o sexo anal; minete, o cunilingus; e buchê, a felação, hoje “boquete”.
PEDRO BANDEIRA,
Militar O coronel Lima, amigo pessoal de Michel Temer, é uma figura folclórica. Todo enrolado com maracutaias e agindo em nome do chefe, quando juridicamente acionado, tem todo tipo de chilique e doenças fajutas. Porém, para cometer ilícitos, está firme e forte. Cadeia nele e punição militar exemplar. Envergonha as Forças Armadas (“Coronel amigo de Temer alega problemas psicológicos ao se negar a depor”, Poder, 30/01).
PAULO HENRIQUE COIMBRA
1964 Foi com o golpe de 1964 que vislumbrou-se que a permanência no poder, via exclusão social, alienação e o consequente “Tem que manter isso, viu?”, era aprimorar a crescente deterioração do sistema educacional e cultural, aliado à privação das necessidades humanas mais elementares, como alimentação, moradia e saúde. Vale lembrar que os militares são educados para cumprirem cegamente as ordens e não para pensar, dialogar e refletir.
ANETE ARAUJO GUEDES
Palestina O mundo anda muito triste, vejam a Faixa de Gaza, um quintal de intolerância e ódio. A razão não pertence a ninguém, os donos da verdade são o amor, a paz e a sabedoria. A guerra entre vizinhos é, antes de mais nada, uma incompreensível e fragorosa derrota humana (“Confrontos em Gaza deixam 16 mortos”, Mundo, 31/03).
RICARDO C. SIQUEIRA
Trem Atrasado Colunistas Em direito, presunção significa julgamento feito a partir de indícios, é uma hipótese considerada verdadeira até que se prove o contrário, portanto é própria da segunda instância, já que trânsito em julgado é o final de um processo, quando foram esgotados todos os argumentos da defesa do réu. O modelo de prisão antes do trânsito em julgado é utilizado em vários países. Assim, pode-se considerar ser desnecessário proceder a um duplo twist carpado hermenêutico para conciliar o texto legal com a execução provisória das penas, como propõe Hélio Schwartsman (“A hora da prisão”, Opinião, 30/3).
JOÃO HENRIQUE RIEDER
Interessante a perspectiva de André Singer. Quando finalmente (e justificadamente) as atenções da Justiça voltam-se a Michel Temer, o colunista consegue encontrar até nisso uma conspiração do “Partido da Justiça” (sic) para tirar a atenção do atentado ao ex-presidente Lula e de seu julgamento. Singer deveria tomar cuidado para que suas ideias não se tornem tão fantasiosas como agora, o que pode escancarar sua completa falta de conexão com a realidade (“Entre tiros e togas”, Opinião, 31/03).
LUIZ DANIEL DE CAMPOS
A democracia está sendo contornada pelo mecanismo do vice. São Paulo será governado por um vice-governador, um vice-prefeito e um vice-presidente, nenhum deles diretamente eleito para o cargo. O Brasil deveria acabar com o famigerado voto casado. Na eleição o cidadão não tem a opção de escolher o vice, isso não é democrático. A figura do vice deveria ser extinta, o substituto deveria ser o próximo na linha sucessória, ou seja, o presidente da Câmara. Simples, democrático e economizaria uma fortuna aos cofres públicos (“República dos vices”, Opinião, 31/03).
MÁRIO BARILÁ FILHO
Dias Melhores