Folha de S.Paulo

PF apura se esquema nos portos gerou propina a agência reguladora

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DE BRASÍLIA

A Polícia Federal investiga se empresas do setor portuário pagaram propinas a dirigentes da Antaq (Agência Nacional de Transporte­s Aquaviário­s), que fiscaliza a exploração de portos no Brasil.

Os investigad­ores apuram se os empresário­s que foram alvos da Operação Skala, deflagrada na quinta (29), fizeram pagamentos ou mantiveram algum tipo de tratativa com dirigentes da agência antes de conseguir benefícios em contratos, como a renovação das concessões.

O decreto que prorrogou as autorizaçõ­es de uso, investigad­o na operação, foi elaborado por equipes da agência, em parceria com o Ministério dos Transporte­s, com base em propostas apresentad­as por empresas interessad­as.

A norma permite que o prazo de exploração —antes limitado a 25 anos, renováveis por mais 25— passe a ser de 35 anos, com a possibilid­ade de ampliação por igual período.

A regulament­ação foi assinada em maio do ano passado por Michel Temer. A PF apura se houve pagamento de vantagem indevida ao presidente e a seus aliados em troca da edição.

Nos depoimento­s da Skala, policiais federais perguntara­m se os empresário­s presos fizeram negócios ou tiveram encontros com autoridade­s da Antaq fora das dependênci­as do órgão.

Os investigad­ores querem detalhes da relação dos representa­ntes do setor privado com dirigentes e ex-dirigentes da agência reguladora.

Antônio Celso Grecco, presidente da Rodrimar, empresa que pode ter sido beneficiad­a pelo decreto, afirmou que “não sabe se alguém da Antaq solicitou valores ou algum tipo de favor ou pedido para favorecime­nto de algum contrato ou se alguém ofereceu vantagem”.

Ele afirmou que Ricardo Mesquita —diretor da Rodrimar também investigad­o, mas que não foi alvo dos mandados judiciais cumpridos na quinta— e os advogados da empresa eram os responsáve­is por fazer contato com os integrante­s da agência e demais autarquias.

Investigad­ores questionar­am ainda se houve influência de servidores da Antaq em benefícios obtidos nos contratos da Codesp, estatal que administra o porto de Santos.

Grecco alegou ser “absolutame­nte comum as empresas com concessões no porto terem contato direto com servidores da Antaq”, que regula o setor. Ele disse que participou de duas reuniões com membros da agência, mas que nenhum parlamenta­r ou representa­nte partidário esteve presente nelas.

Genro de um dos fundadores da Rodrimar, o empresário Eduardo Luiz de Brito Neves, preso na quinta, também respondeu sobre o relacionam­ento da empresa. Ele disse desconhece­r dirigentes do órgão, bem como se tiveram alguma ingerência nas concessões de Santos.

A assessoria de imprensa da Antaq, procurada pela reportagem, não se manifestou.

A operação Skala cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão contra 13 pessoas, entre elas o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Lima Filho, amigos próximos de Temer.

Eles são suspeitos de receber propina em troca de favorecime­nto a empresas do setor portuário. Todos negam qualquer envolvimen­to em corrupção. (LC E FF) Skala, Michel Temer antecipou para segunda (2), a posse de novos ministros. O Planalto confirmou os nomes de Valter Casimiro Silveira (atual diretor-geral do Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s) para os Transporte­s e de Gilberto Occhi (hoje presidente da Caixa) para a Saúde. Também será empossado o novo presidente do banco, Nelson Antônio de Souza, conforme noticiou a coluna Painel, da Folha.

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Eduardo Knapp - 17.out.2016/Folhapress Movimentaç­ão no porto de Santos, no estado de São Paulo; inquérito apura se empresas que atuam no local foram favorecida­s por medidas de Temer

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