Folha de S.Paulo

Presos da Lava Jato saem do território de Moro

Réus que não têm outros processos pendentes no Paraná cumprem pena em locais como Tremembé (SP)

- FELIPE BÄCHTOLD

Parte dos condenados da Lava Jato que tiveram prisão decretada pelo juiz Sergio Moro não está cumprindo pena no Paraná. Em alguns casos, a Justiça Federal autorizou alvos da operação a permanecer em seus estados, como Rio e São Paulo. Três foram para o complexo de Tremembé (a 147 km de São Paulo), conhecido por abrigar presos de crimes de repercussã­o.

Ainda é incerto onde o expresiden­te Lula cumprirá sua pena, caso o Supremo Tribunal Federal negue seu pedido de habeas corpus preventivo no próximo dia 4 e a Justiça Federal decrete sua prisão devido ao esgotament­o dos recursos na segunda instância.

De oito réus que estavam soltos e foram presos desde o ano passado após condenação em segunda instância, cinco foram autorizado­s pela Vara Federal responsáve­l por execução penal no Paraná a permanecer em seus estados. Entre os argumentos para isso está o de que não há contra eles outros processos ou investigaç­ões em andamento que exigiriam a presença deles no Paraná.

Não é a situação de Lula: além do processo do tríplex, ele tem mais duas ações penais em Curitiba, que envolvem a compra de um terreno para o Instituto Lula e reformas em um sítio que ele frequentav­a em Atibaia (SP).

O Ministério Público Federal vem defendendo que o cumpriment­o da pena ocorra no estado onde a Lava Jato começou e entende que os deslocamen­tos geram mais gastos públicos.

Desde as fases iniciais da operação os presos provisório­s têm sido transferid­os para o Paraná logo depois de suas prisões. No estado, eles ficam na superinten­dência da PF, em Curitiba, ou no Complexo Médico-Penal de Pinhais (região metropolit­ana), onde há uma ala para a Lava Jato.

Lá estão políticos conhecidos, como o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e o ex-deputado André Vargas.

No último dia 17, a Folha mostrou que dois assassinat­os em outras alas do complexo paranaense provocaram preocupaçã­o com a segurança entre advogados e parentes de alvos da Lava Jato. EXECUÇÃO PENAL O decreto de prisão após o trâmite na segunda instância, que pode ser expedido contra Lula, marca uma transição nos processos da Lava Jato.

Os casos passam da alçada do juiz Sergio Moro para a 12ª Vara Federal do Paraná, que cuida do dia a dia do cumpriment­o de penas, como pedidos das defesas e a aplicação de multas. Os juízes responsáve­is por essas tarefas de execução penal são Danilo Pereira Júnior e a substituta Carolina Lebbos.

Em fevereiro, Lebbos permitiu que o ex-agente da PF Jayme Oliveira Filho, condenado a oito anos e quatro meses de prisão, permaneces­se no Rio, com o argumento de que ele tinha direito ao convívio familiar. Preso após o fim do trâmite na segunda instância, ele não tem outros processos pendentes.

O complexo de Tremembé recebeu Júlio César dos Santos, ex-sócio de José Dirceu, e o irmão do ex-ministro, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, que tiveram a execução da pena determinad­a por Moro em fevereiro.

Outro detido na unidade do interior paulista é Márcio Bonilho, acusado de auxiliar o doleiro Alberto Youssef a lavar dinheiro.

Essa prisão chegou a ganhar o apelido de “presídio de Caras”, em referência à presença de condenados em casos de grande repercussã­o, como Suzane von Richthofen, o médico Roger Abdelmassi­h e o operador do mensalão, Marcos Valério.

É conhecida também por não ficar sob influência de facções criminosas. Segundo o governo de São Paulo, a unidade Tremembé 2 recebe detentos que “não podem conviver com outros presos por funções que ocupavam quando estavam em liberdade ou por casos de crimes de clamor público”. Lá, 66% dos detidos em regime fechado trabalham.

Preso há três anos e já condenado em segunda instância, o ex-deputado federal Luiz Argôlo conseguiu em dezembro o direito de cumprir pena na Bahia, seu estado.

Ele havia citado a necessidad­e de permanecer perto de seus filhos e o histórico de bom comportame­nto para conseguir a transferên­cia.

O ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), detido no Paraná desde 2016, pediu para ficar preso no Rio ou em Brasília, mas Moro negou a solicitaçã­o no ano passado, afirmando que é preciso “mantêlo distante de seus antigos parceiros criminosos”.

Sérgio Cabral (MDB) foi transferid­o para Pinhais em janeiro, depois de mais de um ano detido no Rio de Janeiro.

Promotores fluminense­s o acusaram de ter regalias na prisão em seu estado. Em protesto, ele se recusou a responder perguntas em seu mais recente depoimento à Justiça Federal no Rio.

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