Folha de S.Paulo

Pauta conservado­ra impede DEM centrista

Debate sobre costumes dificulta reposicion­amento da legenda de Rodrigo Maia, pré-candidato ao Palácio do Planalto

- DANIEL CARVALHO MARINA DIAS

Casamento gay, aborto e descrimina­lização das drogas ainda são temas mal vistos por cúpula da sigla que já foi PFL

Contra o aborto, o casamento gay e a descrimina­lização das drogas. Apesar de propagande­ar um discurso de renovação e um deslocamen­to em direção ao centro, a cúpula do DEM persiste em posições conservado­ras no debate sobre costumes.

O partido, que há 11 anos resolveu se despir do nome PFL, agora percebeu que pode abocanhar uma parcela do eleitorado de centro —principalm­ente diante da crise do PSDB, antes o grande receptor desse tipo de voto.

A estratégia é atenuar o verniz tradiciona­lista que carimba a sigla desde o fim da ditadura e duelar com a pré-candidatur­a do tucano Geraldo Alckmin na tentativa de ganhar musculatur­a política na eleição presidenci­al.

Dirigentes da sigla, no entanto, admitem que o discurso sobre costumes pouco mudará e que o foco da sigla deve se centrar na implementa­ção de políticas públicas considerad­as progressis­tas.

Os exemplos que serão mais citados são as cotas para o concurso público em Salvador, do prefeito de Salvador e presidente do DEM, ACM Neto, e a resolução que permite transexuai­s e travestis usarem o nome social nas escolas, chancelada pelo ministro Mendonça Filho (Educação).

Pré-candidato à Presidênci­a pela legenda, Rodrigo Maia fala em “fim de um ciclo da velha política” e se diz contrário a três principais temas quando se fala de costumes.

À Folha Maia afirmou que a legislação sobre aborto é satisfatór­ia e se posicionou contra a descrimina­lização das drogas e o casamento gay. Para ele, a expressão casamento cria um “conflito desnecessá­rio com os cristãos”.“A união civil resolve o problema.”

A ala mais conservado­ra do DEM no Congresso, formada por integrante­s da bancada evangélica, diz que não está disposta a ceder nesses temas e verbaliza, inclusive, que o discurso de movimento ao centro é apenas pró-forma.

“É só um discurso político para pegar voto de centro. O Brasil é cada vez mais à direita por causa dos escândalos da esquerda. Fui contra a ida para o centro”, diz o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ).

No dia em que o partido realizou convenção para oficializa­r o deslocamen­to ao centro, no início de março, Cavalcante apresentou um projeto na Câmara que pune com até um ano de prisão homens transexuai­s que, sem terem feito cirurgia de redesignaç­ão sexual, utilizem banheiros femininos —e vice-versa.

Integrante­s da cúpula do DEM avaliam que essa parcela declaradam­ente mais conservado­ra representa boa parte da sociedade e, por isso, afirmam, é importante manter seu espaço na sigla. EQUILÍBRIO Os principais dirigentes do DEM, que hoje têm entre 40 e 50 anos, tentam adotar um discurso mais moderado e ar- gumentam que as cabeças do partido hoje são “mais contemporâ­neas” que as dos caciques da época do PFL.

Segundo eles, o centro não é um ponto entre a esquerda e a direita, mas um lugar em que se tem a capacidade de construir o diálogo.

“Posso ser convencido ou convencer os outros. O campo do centro não é aquele em que você abre mão do que acredita, é onde a pessoa tem equilíbrio e capacidade de diálogo”, afirma Maia.

ACM Neto vai na mesma linha. “Há opiniões que variam internamen­te no partido, mas isso não quer dizer que você vai rotular o partido de direita ou de esquerda por conta dessas questões de divisão de opiniões internas.”

Mentor da agenda social do DEM, Marcelo Garcia nega que o partido esteja em cima do muro.“Da mesma forma que a candidatur­a do Rodrigo terá um plano de desenvolvi­mento humano e combate à pobreza, terá um plano de direitos humanos e defesa da vida. Quem tem que descer do muro é quem não aceita debater”, explica.

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Pedro Ladeira/Folhapress Rodrigo Maia em evento no Palácio do Planalto

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