Antes que fake news matem
JOSEPH GOEBBELS, o ministro de Propaganda do nazismo, bem que poderia ser considerado o patrono das fake news. Não que ele tivesse sido o primeiro a usar mentiras como instrumento de política e de violência. Fake news, a rigor, existem desde que a serpente postou a falsa versão de que Adão e Eva poderiam comer a maçã que nada aconteceria.
Mas Goebbels estabeleceu um paradigma —nefando e letal— que não foi ainda superado. Uma coisa são as fake news que supostamente ajudaram a eleger Donald Trump; outra, a devastação causada, direta ou indiretamente, pelas falsidades que Goebbels disparava.
Há pelo menos um episódio que precisa ser lembrado, como símbolo sinistro e como elemento de comparação com a onda atual de fake news.
Refiro-me à intensa campanha de propaganda despejada sobre os alemães atribuído à Polônia após a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial (1914-18).
Armou-se assim o ambiente para que, no dia 1º de setembro de 1939, a Alemanha invadisse a Polônia. Dois dias depois, a Inglaterra e a França declararam guerra à Alemanha, marco do início da Segunda Guerra Mundial.
A ocupação da Polônia foi seguida pela perseguição e eliminação de quase toda a elite polonesa —a
Seria fake news responsabilizar Goebbels também pelo Holocausto. É verdade que seu ministério foi responsável por inúmeras ações de disseminação do ódio contra os judeus.
Mas é razoável supor que o Holocausto teria ocorrido com ou sem Goebbels, ante o virulento antissemitismo de toda a cúpula nazista. Mas a ocupação da Polônia, para a qual influiu o propagandista do União Soviética (3,02 milhões), mais que na própria Alemanha (566 mil).
Estabeleceram-se na Polônia pelo menos desde o século 11. No século 16, 8% de todos os judeus do mundo lá viviam.
Foram dizimados, como se sabe. É comovente ver hoje, na pracinha de Kazimiers, antigo centro da vida judaica em Cracóvia, um gueto durante a guerra e agora animado centro de lazer, a reprodução de comércios judaicos da época préguerra.
Mas é só a carcaça, só existem fantasmas.
É possível que a invasão da Polônia tivesse ocorrido mesmo sem se transforme em arma de destruição em massa.
Afinal, vale ainda hoje a frase do filósofo espanhol Jorge de Santayana y Borrás (mais conhecido como George Santayana), gravada na entrada do “Bloco 4” do centro de extermínio de Auschwitz: “Quem não relembra a história está condenado a vivê-la de novo”.