Folha de S.Paulo

Más novas pioram clima no planeta

- MARCELO LEITE

AS NOTÍCIAS ruins se acumulam, e não se trata só dos petardos na política brasileira. O clima vai mal no planeta, e não pense que é só por causa de Donald Trump, Kim Jongun e Vladimir Putin.

É o clima mesmo, em sentido literal, que vai continuar mudando —para pior. Por uma razão simples: as emissões de carbono (gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono, CO2) voltaram a crescer, reativando a marcha insensata do aqueciment­o global.

Quem acha que isso não muda nada no planeta que se informe sobre o que está acontecend­o no Ártico. O ponto máximo de congelamen­to do mar em volta do polo Norte, neste inverno setentrion­al 2017-18, foi o segundo menor já registrado. Perdeu só para 2017-16. Todos os quatro recordes negativos ocorreram nos últimos quatro invernos.

Adieu, Paris. Nessa toada, ninguém acredita mais que será possível alcançar a meta do acordo fechado média da atmosfera terrestre.

O aumento das emissões registrado pela Agência Internacio­nal de Energia (IEA, na abreviação em inglês), 1,4% de 2016 para 2017, parece pequeno. Não é. Ele reverte uma série de três em que a poluição climática se mantivera estável.

Se fosse para cavar uma boa notícia em meio à fuligem, seria o caso de assinalar que a economia mundial cresceu bem mais que 1,4% no ano passado. Segundo estimativa em janeiro, o produto global terá aumentado 3,7% em 2017. A IEA estima que a demanda por energia progrediu menos, 2,1%.

A intensidad­e carbônica da economia diminuiu, ou seja, emitiu-se menos CO2 por unidade produzida. Pouco importa: aumentamos a quantidade absoluta de carbono despejada no ar, quando deveríamos estar a diminuí-la. Verdade que as fontes renováveis e limpas —eólica, solar fotovoltai­ca

Não foi o suficiente, contudo, para pôr freio à expansão dos combustíve­is fósseis (carvão mineral, óleo e gás natural), cuja queima constitui a maior fonte de carbono perturbado­r da estabilida­de climática. Eles ainda fornecem 81% da energia primária (geração elétrica e transporte­s) consumida pela economia mundial.

Se fosse para buscar vilões, haveria que apontar o dedo para a China e a Índia. Na Ásia se concentra a maior parte do aumento da demanda energética. Só esses dois países garantiram 2/5 do cresciment­o.

Os EUA, paradoxalm­ente, viram suas emissões diminuírem 0,5%. Trump pode bajular eleitores nos estados produtores de carvão mineral, no Texas; o tufão Damrey no Vietnã; incêndios devastador­es em Portugal, Espanha, Itália, Califórnia e Chile. A temperatur­a global acumulou 1,1°C de aumento.

Com dados bem menos robustos, em qualquer outro setor, todos na esfera pública se apressam a identifica­r uma tendência e a clamar que algo precisa ser feito. Não para o clima.

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