Folha de S.Paulo

É, com essa defesa da dramaturgi­a enquanto palavra.

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Folha - Você já começou como autor, mas a peça era “Uma Família à Procura de um Ator”.

Samir Yazbek - Como autor e como ator. Na época, eu acreditava ser ator. Mas o gosto pela dramaturgi­a veio antes, comecei a escrever cedo. Como foi sua formação?

Foi irregular, primeiro faculdade de física, depois filosofia, que larguei também para acabar me formando em cinema. Mais recentemen­te, reconectei com a academia, na Letras [USP]. Me aproximei do [professor] Fábio de Souza Andrade e aí foi bacana. O livro que você prepara é baseado na dissertaçã­o? Neste momento, fala-se mais em escritura cênica.

É, escritura espetacula­r, dramaturgi­a do corpo... Na Perspectiv­a, eles me instigaram a ser até mais assertivo na defesa da dramaturgi­a enquanto texto, então estou fazendo umas mudanças. Como será o livro?

Ele conta a história mais recente da dramaturgi­a brasileira, com meu olhar, minha vivência. Me preocupo também em evitar a distinção dos processos de criação, se você escreve sozinho, no gabinete. Ou em colaboraçã­o.

É. Também uma coisa que fui percebendo: a associação equivocada da palavra, na dramaturgi­a, ao gênero dramático, mais tradiciona­l. É um erro. Por curiosidad­e, contei as menções do Lehmann [em “Teatro Pós-Dramático”, de Hans-Thies Lehmann, Cosac & Naify, 2008] e o que mais aparece, mais até que o [diretor] Bob Wilson, é um dramaturgo, que é o Heiner Müller. Meu trabalho tem essa cara. Abreu também estava, com o diretor Antônio Araújo.

E o Sérgio de Carvalho. Enfim, eu sentia que tinha uma coisa ali, que a gente precisava arregaçar as mangas. Mas não era tanta gente, porque o que estava ficando forte mesmo era o teatro de grupo, a coisa do colaborati­vo, que colocava em xeque esse lugar do dramaturgo como criador.

E que é o lugar que eu tento valorizar, agora, no livro. A ideia de que é possível criar uma nova estética a partir de uma nova configuraç­ão dramatúrgi­ca que valorize o texto, a palavra. Obviamente, sabendo que não se esgota aí, que não é para ficar no papel, que o teatro é para a cena. Na sua trajetória, há alguns marcos como “O Fingidor” em 1999 e, mais recentemen­te, “As Folhas do Cedro”.

São as minhas peças mais maduras. No meu caso, escrever demora, não cai do céu. Toda vez em que tento apressar, não vinga. Essas duas foram resultante­s de crises no âmbito pessoal, profission­al, e eu não tinha respostas.

Com essas e outras duas peças, “A Entrevista” [2004] e “Uma Terra Prometida” [2001], quando o pessoal comentava, criticava, quando eu recebia depois o retorno, ficava até espantado. Toda vez é começar do zero, nunca é uma coisa em que eu sinto: “Ah, consegui um lugar, consegui fazer duas, três peças boas”. Há cerca de dois anos, você passou a trabalhar sozinho.

Um dos motivos mais fortes para eu ter parado o trabalho com a companhia [dele e do ator Hélio Cícero] é que não conseguia tempo para escrever, com a tripla função de

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