Força muscular atinge vigor máximo antes dos 30 anos. Daí em diante é o declínio natural, lamento informar
A FORÇA muscular atinge o vigor máximo antes dos 30 anos. Daí em diante é o declínio natural, lamento informar.
Acontece dessa forma porque o corpo humano não foi selecionado para viver mais do que 20 ou 30 anos. No decorrer dos 6 milhões de anos de evolução, foram raros os que passaram dessa idade.
No império romano ou na China do século 19, a expectativa de vida ao nascer era ao redor de 30 anos. Nos países europeus mais desenvolvidos do início do século passado chegou aos 40. Ainda a pouco, quem sobrevivia até completar 60 anos, era chamado de sexagenário.
No ano 2000, cerca de 71 milhões de mulheres e homens ultrapassaram os 80 anos, número que em 2030 atingirá 202 milhões, e chegará a 434 milhões em 2050 (dados da ONU).
Você, leitor, vai querer estar entre eles e, se possível, comemorar o nonagésimo aniversário; mas não a qualquer preço. Entrevado no leito, incapaz de realizar por conta própria as atividades diárias mais simples, não vale a pena.
Os maiores inimigos da independência individual na velhice são as deficiências cognitivas características das demências e a perda da massa e das funções musculares.
A revista Nature traz um artigo sobre o enfraquecimento que impede os mais velhos de subir escadas, andar até a padaria ou levantar da cadeira sem ajuda, processo degenerativo que Irwin Rosemberg, da Universidade de Boston, chamou de sarcopenia, em 1988.
Se o termo ainda não existia até essa data, é porque a redução progressiva da massa muscular não era considerada patologia, mas inerente à fisiologia do envelhecimento. A mesma complacência médica havia ocorrido com a osteoporose até o início dos anos 1980.
As causas da sarcopenia são multifatoriais: vida sedentária, queda dos níveis de testosterona, estrogênio e hormônio do crescimento, infiltração de gordura entre as fibras musculares, perda dos neurônios que conduzem o estímulo aos músculos, resistência à insulina, deficiência de vitamina D e ingestão deficitária de proteína.
As estratégias de prevenção mais estudadas têm sido as que envolvem o estilo de vida. Ensaios clínicos que investigaram a influência dos exercícios com levantamento de pesos e de força contra resistências mostraram aumentos significativos da massa muscular, em qualquer idade.
Os que avaliaram o papel do exercício aeróbico (andar, correr etc.) concluíram que o impacto na força muscular é pequeno.
O grupo que corre risco mais alto de sarcopenia incapacitante é o daqueles que enfrentam períodos longos de inatividade, causados por doenças debilitantes, consolidação de fraturas e hospitalizações.
Há uma estimativa aproximada de que a imobilidade dos mais velhos em leito hospitalar provoque a perda de até 2% da massa muscular por dia. Ou seja, perda de 30% numa internação de apenas 15 dias.
Em 2013, uma revisão da literatura realizada pela European Geriatric Medicine Society demonstrou que a ingestão de proteína é fundamental para a manutenção dos músculos. A sociedade recomenda que mulheres e homens saudáveis com mais de 65 anos aumentem o consumo. Nos portadores de enfermidades crônicas deve ser maior ainda.
Há diversas pesquisas no campo da farmacologia. A descoberta de medicamentos capazes de ajudar na prevenção do enfraquecimento muscular teria muito interesse clínico e comercial.
A administração de testosterona é controversa. A insegurança vem dos efeitos indesejáveis: virilização das mulheres, mudanças da voz, toxicidade hepática e a possibilidade de aumentar o risco de câncer de próstata, preocupação que não pode ser descartada.
Uma área promissora é a que considera uma provável ligação entre o tratamento da sarcopenia e o rejuvenescimento. Durante o exercício, as contrações das fibras musculares liberam proteínas (mioquinas) que caem na corrente sanguínea e vão interferir com a fisiologia de diversos órgãos, inclusive com o funcionamento do cérebro.
A passividade diante do conceito de que o envelhecimento está associado ao declínio inexorável das funções motoras, das atividades cognitivas e às doenças degenerativas faz parte do passado da medicina.