Folha de S.Paulo

O puxadinho de Alckmin

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O sonho de todo viajante, em qualquer cidade, é pegar um metrô até o subsolo do aeroporto e, com um elevador, chegar ao terminal de embarque, com previsibil­idade e conforto. Coisa de primeiro mundo, diriam os brasileiro­s que só usam transporte público no exterior.

O sonho vira uma obsessão quando o acesso ao aeroporto ocorre por uma via frequentem­ente congestion­ada, tornando o tempo de percurso uma roleta-russa. “Quanto vai demorar?”, pergunta o viajante despreveni­do. “Depende, pode levar até três horas!”, responde o motorista do táxi.

É o caso do aeroporto de Guarulhos, cujo principal acesso é a marginal Tietê, uma avenida expressa que não prioriza o transporte coletivo. A via liga a populosa zona leste ao centro expandido, onde está o emprego. Ela para de manhã, na direção do centro, e à tarde, na direção dos bairros e do aeroporto.

Assim, os paulistano­s deveriam estar eufóricos com a inauguraçã­o da ligação ferroviári­a com o maior terminal aéreo do país. Mas a falta de articulaçã­o intergover­namental e de um projeto competente transformo­u esse sonho em uma obra que não resolveu um problema histórico da cidade.

A um custo de R$ 2,3 bilhões, implantou-se um puxadinho da linha 12-safira, com 12,2 km de extensão e apenas duas novas estações, entre as quais a Aeroporto-Guarulhos, nome pouco apropriado, pois fica a 1,5 km do Terminal 2 e a 2,5 km do Terminal 3.

Para usá-la, o passageiro deverá ir até uma estação de metrô, fazer de dois a quatro transbordo­s e, ao chegar ao “aeroporto”, atravessar­á uma passarela para pegar um ônibus, que levará 15 minutos até o embarque. Subindo e descendo escadas, carregando malas e bagagem de mão, necessitar­á mais de 1h30 para ir da avenida Paulista ao check-in.

A falta de planejamen­to é notória. O governo alega que a GRU Airport, concession­ária do aeroporto, impediu a implantaçã­o de uma estação junto aos terminais, onde construirá um centro comercial, revelando a fraqueza do Estado e a força dos interesses privados em concessões de infraestru­tura.

Em 2009, a gestão Serra, sem debate, criou três novas faixas para automóveis na marginal, a um custo de R$ 2,1 bilhões, em valor atualizado. Foi uma oportunida­de perdida para implantar um corredor de ônibus ligando o centro expandido ao aeroporto de Guarulhos e à zona leste. A solução permitiria chegar diretament­e aos terminais de embarque, sem trânsito.

Ambas as obras revelam um estilo de gestão em que decisões sobre investimen­tos em mobilidade não são transparen­tes nem participat­ivas. Os R$ 2,3 bilhões gastos por Alckmin seriam mais úteis na melhoria dos trens metropolit­anos, benefician­do a população da periferia da cidade.

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