Quem desestabiliza o país não tem brasilidade, diz Temer
Sem citar nomes, ele reclamou em SP dos que criam embaraços ao governo
Mais cedo, em Brasília, presidente lançou outra leva de indiretas sobre prisão de seus amigos pela Polícia Federal DE BRASÍLIA
Sem citar nomes, o presidente Michel Temer criticou nesta segunda-feira (2) em São Paulo pessoas sem “brasilidade em seu coração” que causam, nas palavras dele, embaraços ao seu governo.
“Nestes quase dois anos de governo, não foram poucos os embaraços e as oposições que nós sofremos, até [de] gente disposta a desestabilizar o país com gestos extremamente irresponsáveis, que têm naturalmente repercussão internacional”, afirmou.
“E as pessoas que agem dessa maneira”, seguiu Temer, “não se apercebem, ou seja, não sentem brasilidade em seu coração, porque sabem que gestos desta natureza comprometem com problemas nos aspectos internacionais”.
O presidente deu a declaração num fórum da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, realizado em um hotel da zona sul da capital. Ele fez discurso enaltecendo a recuperação econômica do Brasil sob sua gestão.
“Apesar de tudo isso [oposições], nós vencemos todas as dificuldades”, disse o presidente Temer.
Além de Henrique Meirelles (Fazenda), que é pré-candidato a presidente e enumerou ações do governo para recuperar a economia, também estavam no fórum em São Paulo com o presidente os ministros Carlos Marun (Secretaria de Governo) e Dyogo Oliveira (Planejamento). Todos saíram sem falar com a imprensa.
Temer, que é de família de origem libanesa, convidou a plateia formada por empresários e investidores a injetar recursos no Brasil e defendeu o estreitamento de laços com os países árabes.
“Por mais que as pessoas protestem ou por mais que as pessoas tentem segurar o desenvolvimento do país, não conseguem”, disse ele. AMIGOS Mais cedo, em Brasília, o presidente fez críticas indiretas à operação que prendeu alguns de seus amigos mais próximos, na semana passada.
Durante a posse de novos ministros da Saúde e dos Transportes e do presidente da Caixa Econômica Federal,cobrou união e diálogo diante do que chamou de problemas, defendeu as instituições e o respeito à Constituição.
Nos bastidores, a fala foi vista como uma referência a excessos que o presidente enxergou na Operação Skala, que prendeu dez pessoas, entre elas o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Lima, amigos de décadas do emedebista.
“Os problemas diante de nós exigem união e diálogo. Acima de todos nós está o país, as instituições. Por isso, eu preservo as instituições, a imprensa livre, prego a independência e a harmonia entre os poderes, porque todos nós passaremos e as instituições hão de ficar”, disse Temer.
O Palácio do Planalto está em guerra com o ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), que autorizou as prisões de Yunes e Lima.
No Planalto, avalia-se que as prisões aconteceram para forçar delações premiadas que comprometam o presidente e criem um enredo que sirva de base para uma nova denúncia contra ele.
Em Brasília Temer também enfatizou a questão das liberdades individuais, o cumprimento do processo legal e a “obediência estritíssima aos termos da Constituição”.
“Somos servos da Constituição”, disse, recomendando à plateia de ministros e outros auxiliares que “conduzase pelos termos da Constituição; não saia dela”.
A indisposição com Barroso vem desde o início de março, quando o ministro autorizou a quebra de sigilo bancário de Temer e promoveu alterações no indulto de Natal concedido pelo presidente no final de 2017.
Críticas diretas a Barroso vêm sendo feitas pelo ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo), que, inclusive, pretende retomar seu posto de deputado em abril para apresentar pedido de impeachment do magistrado.
Na sexta-feira (30), o Planalto divulgou nota em que não criticou nominalmente Barroso, mas acusou “autoridades” de tentar destruir a reputação do presidente.
(JOELMIR TAVARES, DANIEL CARVALHO, MARINA DIAS)