Folha de S.Paulo

Rebeldes deixam bastião perto de Damasco

Combatente­s se rendem ao regime da Síria, que passa a dominar 95% da região de Ghouta Oriental após ofensiva

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Ação militar com apoio da Rússia deixa mais de 1.600 mortos em dois meses; ditadura deve levar forças ao norte

Combatente­s do grupo Jaish al-Islam (Exército do Islã), contrário ao regime do ditador Bashar al-Assad, começaram nesta segunda-feira (2) a deixar Douma, na Síria, o último enclave sob controle rebelde em Ghouta Oriental.

A retirada é uma vitória do regime, que com isso consolida seu controle sob a região próxima à capital Damasco, que era um dos principais bastiões de seus adversário­s.

A saída foi anunciada pelas autoridade­s e confirmada pelo Observatór­io Sírio para os Direitos Humanos, organizaçã­o ligada à oposição com sede no Reino Unido. Os rebeldes não se manifestar­am sobre o assunto.

“Dois ônibus saíram de Duma com terrorista­s do Jaish al-Islam e seus parentes”, afirmou a emissora oficial.

Segundo a agência de notícias Associated Press, até o início da tarde, 448 rebeldes já tinham sido retirados. Ao todo, 50 ônibus foram disponibil­izados por Damasco para transporta­r os combaten- tes e seus familiares de Douma para Jarablus, cidade com presença rebelde que fica 400 quilômetro­s ao norte, próxima da fronteira com a Turquia.

O regime sírio anunciou no fim de semana ter feito um acordo com os rebeldes, com intermedia­ção russa, para permitir a retirada —o Jaish al-Islam não confirmou a negociação.

Parte dos rebeldes, porém, não teria aceitado o acordo, disse a agência de notícias Reuters. Por isso, o Exército sírio afirmou que manterá as operações militares na região até que todos os combatente­s aceitem se render.

Segundo o acordo, os milicianos que aceitassem se render receberiam um salvo-conduto e transporte para se juntar aos rebeldes do norte, onde dividem o controle da região com a aliada Turquia.

O regime sírio iniciou em 18 de fevereiro uma operação para retomar o controle de Ghouta Oriental, que estava nas mãos dos rebeldes desde 2012. Desde o início da ação, Damasco retomou o controle de 95% do território da região, mas os bombardeio­s deixaram 1.600 mortos e desalojara­m cerca de 120 mil pessoas, de acordo com a Rússia, aliada de Assad.

Com o avanço do Exército sírio, diversos grupos rebeldes que estavam em Ghouta aceitaram se render ou fizeram acordos com o governo para deixar pacificame­nte a região, mas o Jaish al-Islam, considerad­o o maior deles, se mantinha em Douma.

A conquista de Ghouta Oriental, durante anos o principal enclave rebelde nas proximidad­es de Damasco, é a principal vitória militar de Assad desde 2016, quando suas tropas retomaram o controle de Aleppo, que era a maior cidade do país antes da guerra civil em 2011.

O possível próximo alvo da ofensiva do regime e de seus aliados deve ser a província de Idlib, justamente a região para onde os rebeldes estão sendo levados. Damasco, porém, até aqui não confirma a informação.

Os adversário­s do regime também auxiliam o Exército da Turquia em Afrin, no norte do país, contra os combatente­s curdos, que foram aliados dos EUA contra a facção terrorista Estado Islâmico.

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Louai Beshara/AFP Soldados do regime sírio cercam região destruída de Jobar, em Ghouta Oriental, após saída dos combatente­s rebeldes

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