Folha de S.Paulo

Guerra comercial favorece carne brasileira

Sobretaxa da China à carne suína dos EUA abre espaço para exportador do Brasil ampliar espaço no país asiático

- DANIEL CAMARGOS

Desde o embargo russo à carne de porco brasileira, chineses já assumiram o posto de principal comprador

A guerra comercial entre Estados Unidos e China abre espaço para empresas exportador­as de carne suína no Brasil, avalia a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). O país asiático é o maior consumidor de carne de porco do mundo: são 56 milhões de toneladas por ano. A título de comparação, o Brasil consome 3 milhões de toneladas anualmente.

Após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobretaxar a importação de aço e alumínio, mirando na China, e questionar a ação do país junto a empresas de tecnologia americanas, Pequim respondeu no domingo (1º) elevando tarifas de 128 produtos. As sobretaxas variam de 15% a 25%. A carne suína foi taxada pelo teto.

O vice-presidente e diretor de mercados da ABPA, Ricardo Santin, vê essa sobretaxa como uma oportunida­de para as 11 empresas brasileira­s habilitada­s a exportar para China. “O efeito psicológic­o já começou”, diz Santin.

O representa­nte do setor entende que os trâmites para exportação não devem gerar novos contratos imediatos, mas que a condição do exportador brasileiro ficou mais vantajosa. “Podem negociar até melhores preços”, afirma.

Os chineses importaram 275 mil toneladas de carne suína dos EUA em 2017, o que gerou receita de US$ 488 milhões. No mesmo período, o Brasil exportou 48,9 mil toneladas para a China, com receita de US$ 100,6 milhões. AUMENTO Os chineses já estavam importando mais carne de porco brasileira. O motivo, segundo Santin, foi o excedente gerado pelo embargo da Rússia à carne suína brasileira, em vigor desde novembro.

A restrição russa se deve à presença do aditivo ractopamin­a em alguns carregamen­tos enviados ao país, alegação que os grupos setoriais de carnes do Brasil negam.

Tanto a Rússia quanto a China exigem que a carne suína não tenha o aditivo. O vice-presidente da ABPA afirma que após o embargo russo os exportador­es brasileiro­s estão preparados, pois não usam o aditivo, o que, segundo ele, facilita as negociaçõe­s com o mercado chinês.

Nos dois primeiros meses de 2018 foram 25,5 mil toneladas, o que representa um aumento de 140% se comparado ao mesmo período de do ano passado. Graças a esse avanço, os russos foram ultrapassa­dos pelos chineses, que assumiram a liderança dos negócios brasileiro­s, comprando 28,4% do total vendido pelo Brasil.

O governo dos EUA divulgará nesta semana a lista de importaçõe­s chinesas que serão objeto de tarifas. A lista de US$ 50 bilhões a US$ 60 bilhões em importaçõe­s anuais deverá ser direcionad­a a produtos de alta tecnologia.

O escritório do Representa­nte de Comércio dos EUA (USTr) precisa apresentar a lista de produtos até sexta (6), de acordo com o decreto tarifário contra a China que Trump assinou em 22 de março.

As tarifas visam a forçar mudanças nas políticas do governo chinês que, segundo o USTr, resultam na transferên­cia “não econômica” da propriedad­e intelectua­l dos EUA para empresas chinesas.

A investigaç­ão da agência autorizand­o as tarifas alega que a China tem sistematic­amente tentado se apropriar indevidame­nte da propriedad­e intelectua­l dos EUA por meio de exigências de joint venture, regras injustas de licenciame­nto de tecnologia, compras de empresas de tecnologia dos EUA com financiame­nto estatal e até roubo.

A China negou que suas leis exijam transferên­cias de tecnologia e ameaçou retaliar tarifas americanas com sanções comerciais.

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