Folha de S.Paulo

Kassin lança ‘Relax’, no qual tenta driblar seriedade com bom humor

Faixas são lançadas sete anos após álbum de estreia do compositor, músico e produtor musical

- AMANDA NOGUEIRA

Trabalho traz ecos de décadas passadas, com 12 canções autorais e releituras de Hyldon e de hit da Jovem Guarda

Com “Relax”, álbum que está disponível nas plataforma­s digitais desde sexta-feira (30), o compositor, músico e produtor Alexandre Kassin, 44, quer falar de coisas sérias, mas com bom humor.

“São canções que de algum jeito poderiam ser um pouco melancólic­as, mas eu sentia que não deveriam soar assim”, diz Kassin. “É para ser leve também. É para tocar em assuntos complexos, como a separação, de uma maneiracom­o ‘bom, a gente passou por isso, mas vamos adiante’.”

Em “As Coisas que Nós Não Fizemos”, por exemplo, ele canta: “Fomos um time campeão/ Dali nada sobrou”.

Kassin indaga sério se o sonho brasileiro seria o donut americano (“Seria o Donut?”), mas diverte ao citar “o golpe de Brasília” em uma faixa que propõe um anestesist­a individual para nos livrar das desilusões cotidianas (“Anestesist­a”).

Esta faixa, cuja inspiração Kassin teve durante o parto de seu filho, é a única a referencia­r diretament­e a situação política do país. “A gente sofreu um golpe, qualquer coisa que tente disfarçar isso é uma ingenuidad­e. A democracia está ameaçada”, diz.

Para o músico, o governo é um reflexo da educação do povo. “Não se faz um país sem civilidade e princípios. A culpa é nossa. Enquanto isso não for um modo mental coletivo, Bolsonaro e Jean Wyllys farão parte da mesma panela, temos que funcionar juntos.”

Lançado inicialmen­te no Japão, em meados de 2017, o disco —o segundo da carreira solo de Kassin— chega ao Brasil cerca de um ano depois, embalado à moda antiga.

Além de uma sonoridade que reflete influência­s de décadas passadas, ele traz consigo um encarte com a autoria das composiçõe­s —12 das 14 faixas são de Kassin— e os nomes dos músicos convidados para tocar em cada uma.

Os detalhes, muitos deles perdidos na era do streaming, denunciam um ouvinte metódico e um experiente produtor que já trabalhou com artistas como Caetano Veloso, Jorge Mautner, Adriana Calcanhott­o e Los Hermanos.

“Gosto de ter esse sabor estético, saber quem gravou e como foi feito é uma coisa muito charmosa”, diz Kassin. PALETA SONORA “Relax” também traz uma releitura de “Estrada Errada”, do soulman Hyldon, que participa do álbum, e “Coisinha Estúpida”, versão de “Something Stupid”, canção gravada por Frank Sinatra e difundida no Brasil pela dupla Leno e Lílian, que fez da faixa um hit da Jovem Guarda.

Kassin, que se diz mais bossa-novista do que jovem-guardista, defende aquele movimento. “Gosto da coisa de ter uma certa ingenuidad­e, um descomprom­isso com ser brasileiro, que é uma coisa que as gerações seguintes ficaram tentando renegar. Achar a Jovem Guarda ruim é como achar o funk ruim”, afirma.

Como produtor, ele já se enveredou por uma paleta sonora. Mas em seu currículo ainda falta ao menos um estilo: o sertanejo. “Adoraria fazer [um álbum]”, diz.

“O sertanejo deu um grande salto em direção ao pop e isso está mudando a música no Brasil”, diz, citando o uso de programaçã­o eletrônica e o arranjo de cordas em um DVD do Luan Santana.

Ele compara o fenômeno à guinada do pagode em direção ao R&B nos anos 1990. “A música caminha.”

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