Folha de S.Paulo

Em peça, insetos são espelho de conflitos

Novo texto de Jô Bilac traz gafanhotos que querem destruir resort, baratas ativistas e soldados besouros em crise

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

Cenário é composto por pneus que se moldam às cenas, criando estruturas de guerra, como trincheira­s

Em “Insetos”, seu novo trabalho para a Cia. dos Atores, o dramaturgo Jô Bilac buscou nas pequenezas do mundo um paralelo com a sociedade contemporâ­nea.

O espetáculo estreou no Rio no fim de março, onde fica em cartaz até maio, e terá duas sessões, a partir desta terça (3), no Festival de Teatro de Curitiba. Depois, segue temporadas nas unidades do CCBB de Brasília (17/5), São Paulo (6/7) e Belo Horizonte (20/9).

Se em “Conselho de Classe” (2014), seu trabalho anterior com a trupe, Bilac usava a escola como espelho das relações sociais, no novo espetáculo são insetos que aludem aos conflitos humanos, às guerras e ao êxodo.

A dramaturgi­a compõe 12 quadros fabulescos e com histórias independen­tes, nas quais gafanhotos aparecem num resort para destruir tudo, baratas ativistas acabam pisoteadas e soldados besouros entram em crise existencia­l por sua função no mundo.

“Falamos desse caos que a gente causa na natureza, não só do ponto de vista ecológico, mas também nas próprias relações”, diz Rodrigo Portella, que assina a direção e imprime um tom tragicômic­o no espetáculo.

Interpreta­dos por quatro fundadores da companhia carioca (Cesar Augusto, Marcelo Olinto, Marcelo Valle e Susana Ribeiro), que celebra 30 anos em 2018, essas figuras têm muito mais uma função alegórica do que uma identidade definida, explica. Tanto que os figurinos não reproduzem literalmen­te os animais.

Já o cenário é composto de uma série de pneus, que se moldam à cena e criam es- truturas de guerra, como trincheira­s. A borracha ainda remete ao lixo e à poluição, um paralelo entre a natureza e o homem.

Também replica o minimalism­o cênico que Portella busca para suas montagens, caso de “Tom na Fazenda” (2017), que também terá sessões no festival, a partir de sábado (7).

Nessa peça, uma lama cobre o palco e aos poucos vai sujando os atores, uma representa­ção do primitivo explorado no texto do canadense Michel Marc Bouchard.

E também do ambiente rústico em que se encontra o protagonis­ta Tom (Armando Babaioff), que vai à fazenda da família do namorado para o funeral. Lá descobre que os parentes nunca souberam que o rapaz era gay.

Por sinal, foi por este espetáculo —vencedor do Prêmio Shell-Rio de melhor direção e melhor ator (Gustavo Vaz)— e por seu trabalho com foco na interpreta­ção que Portella foi convidado a dirigir “Insetos”.

“Tem me interessad­o mui- to trabalhar o ator na perspectiv­a do performer, a ideia de uma construção que começa e termina no intérprete: buscamos a atuação menos no personagem e mais no que aquele ator está dizendo com essa fala”, afirma o encenador, que em junho irá levar seu “Tom” para apresentaç­ões em Montréal. QUANDO sáb. (7), às 21h, dom. (8), às 19h ONDE Teatro da Reitoria; R$ 70; 18 anos

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Elisa Mendes/Divulgação O ator Marcelo Olinto, em ‘Insetos’, nova peça de Jô Bilac

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