Cota leva 1.500 deficientes à universidade
Levantamento mostra impacto de lei de 2016 que ampliou acesso dessas pessoas a vagas em instituições federais
Falta de acesso massivo à educação básica, dificuldades logísticas e desconhecimento ainda são obstáculos
Após cinco anos de tentativas frustradas, o estudante Renato Xavier de Oliveira, 26, finalmente conseguiu entrar em uma universidade pública neste ano. Cadeirante, ele contou com auxílio da política de cotas para pessoas com deficiência, instituída em 2016 pelo governo federal.
Igual a Renato, pelo menos cerca de 1.500 alunos com deficiências física, sensorial, intelectual ou autismo, que estudaram a vida toda em escolas públicas, estão ingressando em universidades federais usando a política afirmativa, de acordo com levantamento realizado pela Folha.
O número não é definitivo porque grandes instituições como a Universidade Federal do Rio e a Universidade Federal de Pernambuco não responderam à reportagem e porque algumas não concluíram totalmente o processo seletivo de 2018. Ele abrange 45 de 66 instituições —sem incluir cursos a distância.
Embora esse total de ingressantes corresponda por enquanto a menos de 20% das cerca de 8.000 vagas oferecidas a pessoas com deficiência, a sinalização é de que nunca houve adesão tão representativa desse público em instituições de ensino superior federais de uma só vez.
Pela nova legislação, a quantidade de vagas oferecidas por cotas nessas universidades deve ser proporcional à presença desse público no censo de cada estado.
Pelo levantamento da reportagem, metade dos calouros cotistas (748) tem deficiência física, seguidos pelos que tem deficiência visual (28%), auditiva (16%) e intelectual ou autismo (5%). Pessoas com deficiência múltipla não somam 1% dos estudantes.
A matrícula do cotista com deficiência só é efetivada após a confirmação da con- dição declarada no ato da inscrição para o processo seletivo ter sido confirmada por meio de uma perícia médica.
Instituições como a Universidade Federal de Minas Gerais, uma das que mais conseguiu atrair alunos com deficiência neste ano (pelo menos 173), estimam que até 40% dos candidatos não conseguiram comprovar que tinham direito à vaga reservada e foram excluídos do processo. AMADURECIMENTO A falta de acesso massivo à educação básica, os obstáculos logísticos para chegar e para permanecer no campus universitário e até o desconhecimento da existência das cotas são apontados por especialistas como alguns dos fatores que podem explicar a dificuldade de adesão.
“Vai demorar um pouco para que a política de cotas se solidifique para esse público. É preciso ainda amadurecer os instrumentos de acesso e enfrentar as dificuldades estruturais, mudar atitudes dentro das instituições”, afirma Euler Moraes Penha, da Pró-Reitoria de Univ. Federal de Minas Gerais Univ. Federal do Ceará Univ. Federal do R. Gde. do Norte 30% das universidades federais oferecem bolsas para alunos com deficiência; quase 100% das instituições têm núcleos de apoio a esse público