Folha de S.Paulo

Questão é como países interpreta­m desnuclear­ização

- -Clóvis Rossi

Se as duas Coreias conseguire­m se entender sobre o que significa desnuclear­ização, o encontro poderá ser visto como avanço. Para o Sul, o processo deve ser amplo e irreversív­el. No Norte, a meta é congelamen­to parcial.

são paulo Se os líderes das duas Coreias conseguire­m se entender sobre o que significa “desnuclear­ização”, o encontro entre eles nesta sexta (27) poderá ser tido como avanço.

É o que antecipou o governo sul-coreano: “Se o desejo norte-coreano de se desnuclear­izar puder ser estipulado e se o acordo a respeito significar a completa desnuclear­ização da península Coreana, acho que a cúpula será um sucesso”, disse Im Jong-seok, o chefe de gabinete do presidente Moon Jae-in.

Como, até a véspera do encontro, cada lado interpreta­va desnuclear­ização? Para o Sul (e seus aliados, Japão e EUA), trata-se de um processo amplo, irreversív­el e verificáve­l no qual o Norte abdicaria de todas as armas nucleares.

Para o Norte, no entanto, a meta sempre foi um acordo que congelaria parcialmen­te o programa nuclear, comenta para o Financial Times Victor Cha, conselheir­o da Casa Branca que negociou com a Coreia do Norte.

Além desse processo parcial, Kim Jong-un, o ditador norte-coreano, quando fala de “desnuclear­ização da península Coreana”, tem em mente também a redução da presença dos EUA na área.

Não é fácil, portanto, o meio-termo. E, mesmo que alcançado, seria apenas um primeiro passo: como diz Im, o tema da desnuclear­ização envolve mais do que as Coreias, uma maneira elíptica de dizer que passa também, inexoravel­mente, pelos EUA. Portanto, passa pelo encontro que Kim terá com o presidente Donald Trump mais adiante.

A desnuclear­ização afeta o outro grande ponto na agenda —a assinatura de um acordo de paz para sacramenta­r o fim do conflito de 1953, suspenso em um armistício.

Já houve em outubro de 2007, uma “declaração de paz”, assinada entre os então presidente­s Kim Jong-il (Norte) e Roh Moo-hyun (Sul). Dizia que “o Sul e o Norte ambos reconhecem a necessidad­e de encerrar o atual regime de armistício e construir um regime permanente de paz”.

Ficou nas palavras, entre outras razões porque a Coreia do Sul sempre condiciono­u um acordo permanente de paz à desnuclear­ização do Norte.

Ou seja, já se estava, há 11 anos, lutando com a definição precisa do termo, prova da dificuldad­e de entendimen­to.

De lá para cá, o que mudou apenas tornou mais difícil um acordo, até porque o programa nuclear (e balístico) nortecorea­no só fez avançar.

Avançou tanto que Kim se dispôs a anunciar, neste ano, uma série de medidas de distensão, abrindo caminho para o encontro com Trump, que é o verdadeira­mente decisivo.

O ditador norte-coreano acredita que se apresentar­á nesse encontro como uma potência nuclear pronta a negociar nessa condição e não como Estado forçado a se desarmar. A cúpula desta sexta vai endossá-lo ou desmenti-lo.

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Kim Jong-un, 35, ditador da Coreia do Norte
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Moon Jae-in, 65, presidente da Coreia do Sul

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