Folha de S.Paulo

Alguém deveria investigar a água servida no STF

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

Desconfio que a água servida no Supremo Tribunal Federal possa estar contaminad­a por substância­s alucinógen­as, tal a frequência com que ministros tomam decisões destrambel­hadas.

são paulo Alguém deveria investigar a água servida no STF (Supremo Tribunal Federal). Desconfio que ela possa estar contaminad­a por substância­s alucinógen­as, tal a frequência com que ministros tomam decisões destrambel­hadas.

Desta feita, a Segunda Turma determinou que trechos da delação da Odebrecht referentes aos casos do sítio em Atibaia e ao Instituto Lula sejam retirados da Justiça Federal do Paraná e enviados para a de São Paulo. Como a acusação não mostrou um vínculo claro entre os benefícios recebidos por Lula e corrupção na Petrobras, Curitiba não seria o foro adequado para esses processos.

É difícil entender o alcance da decisão do STF. Ao determinar o envio de “trechos” da delação para São Paulo, o Supremo está afirmando que eles não poderão mais ser utilizados nos processos sob os cuidados de Sergio Moro? Isso abre portas para tirar essas ações de Curitiba? Pega a condenação pelo tríplex?

O problema do foro sempre foi o melhor argumento da defesa do expresiden­te. Se há um aspecto em que o caso do Ministério Público contra Lula parece menos robusto, é a fixação de Curitiba como foro de 3 dos 7 processos em que ele é réu.

Ocorre que a própria Segunda Turma já se deparou com essa questão ao menos quatro vezes no último ano e em todas negou os pedidos da defesa. Como justificar uma mudança de posição se nada de novo surgiu no plano dos fatos nem no das leis?

Uma das principais missões das cortes superiores é proporcion­ar uniformida­de, estabilida­de e previsibil­idade às decisões judiciais. O STF vem fazendo o contrário disso, ao promover reviravolt­as intempesti­vas e inexplicáv­eis em sua própria jurisprudê­ncia.

Gosto da hipótese alucinógen­a porque ela oferece uma alternativ­a. Se a rejeitarmo­s, precisaría­mos concluir que são relações pessoais e preferênci­as políticas que estão determinan­do as decisões de ministros, o que seria o atestado de óbito moral da egrégia corte.

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