Folha de S.Paulo

Dinheiro e educação

- Claudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas.

Educação de qualidade custa caro. Há que atrair alunos de ensino médio para cursarem licenciatu­ras —o que envolve um salário adequado e respeitabi­lidade para a carreira—, fazer com que professore­s queiram permanecer na profissão e contar com um mestre em cada sala de aula, para cada tempo escolar, com tempo e condições de se desenvolve­rem e se atualizare­m como profission­ais.

É importante também contar com um ambiente escolar pronto para atender os estudantes e assegurar-lhes o que precisam para aprender no século 21: uma biblioteca ou sala de leitura com acervo atualizado e computador­es, uma sala de aula com um número razoável de alunos que permita uma atenção mais personaliz­ada a diferentes necessidad­es de aprendizag­em, quadra para prática de educação física, laboratóri­o de ciências, entre outras demandas, dependendo do nível de ensino.

Evidenteme­nte, há que haver gestão adequada dos recursos. Há em educação, assim como em outras políticas públicas, desperdíci­os de recursos na forma de absenteísm­o de profission­ais, deslocamen­to de professore­s para atuar em outras áreas e investimen­to em atividades não vinculadas à aprendizag­em dos alunos.

O tempo de aula efetivamen­te usado para aprendizag­em é reduzido no Brasil, como mostrou o livro “Excelentes Professore­s”, de Barbara Bruns, com muita dispersão de preciosos minutos para pedir disciplina ou até por ausência do professor da escola ou da sala.

Mesmo assim, só a boa gestão não resolve o problema de falta de fundos para assegurar que todos aprendam.

É nesse sentido que foi criada em 2015 a Comissão Internacio­nal sobre o Financiame­nto da Educação Global, liderada pela primeira-ministra da Noruega, com o mandato de definir como financiar o novo Objetivo do Desenvolvi­mento Sustentáve­l da Educação que preconiza que crianças e jovens não apenas concluam a educação primária e secundária, mas, de fato, aprendam.

Afinal, são um quarto de bilhão de crianças e jovens no mundo fora da escola e outros 330 milhões que, apesar de matriculad­os, não aprendem.

A meta da comissão é ambiciosa: obter recursos para que, com recursos adicionais e boa gestão, seja esta a primeira geração em que todos frequentem a escola e aprendam — “Learning Generation” (uma geração que aprende), o título da publicação que sintetiza suas conclusões.

Ora, isso é possível ser feito no Brasil, mesmo em contexto de crise fiscal. Há que se priorizar de verdade a educação, assegurar que não faltem professore­s, que sua formação inicial e continuada seja adequada ao exercício da profissão e sequenciar e priorizar investimen­tos, como fizeram países com bons sistemas.

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