Folha de S.Paulo

O delator e o ‘Amigo’

- Bruno Boghossian

brasília Uma delação de Antonio Palocci pode preencher a lacuna que foi aberta quando o Supremo retirou de Sergio Moro trechos da delação da Odebrecht que citam Lula. A Lava Jato quer que o ex-ministro explique se os contratos da empreiteir­a com a Petrobras ajudaram a bancar favores para o ex-presidente.

O principal ponto de interrogaç­ão que poderá ser esclarecid­o por Palocci é o abastecime­nto da conta batizada de “Amigo”. Segundo Marcelo Odebrecht, o ex-ministro operava a propina que passava por ali para pagar despesas de Lula.

Palocci já disse que a empreiteir­a desviava para o PT parte do dinheiro que ganhava com a Petrobras, mas ainda não deixou claro como esses recursos da estatal teriam beneficiad­o o ex-presidente.

A origem e o caminho do dinheiro estão no centro das discussões sobre a competênci­a de Moro para julgar Lula. O petista é acusado de ter recebido da Odebrecht uma reforma em um sítio que frequentav­a em Atibaia, um apartament­o em São Bernardo do Campo e o imóvel onde funcionari­a seu instituto.

Para os petistas, a Segunda Turma do STF abriu uma brecha para retirar esses processos das mãos de Moro ao determinar que só devem ficar em Curitiba informaçõe­s que citem desvios da Petrobras.

Os advogados de Lula afirmam também que há espaço para anular a condenação do ex-presidente pelo tríplex de Guarujá, pois não veem relação do caso com a estatal. Sob esse argumento, Moro não poderia ter proferido a sentença.

O juiz do Paraná alega que o dinheiro desviado da Petrobras pelas empreiteir­as funcionou como crédito que foi usado, anos mais tarde, para pagar favores a Lula. A defesa do ex-presidente tenta minar essa tese por considerá-la abstrata.

Palocci pode mexer nesse jogo. Se fizer uma conexão entre os contratos da estatal e a conta-propina, dará fôlego a Moro para julgar os casos. Se o ex-ministro não explicar as ligações, Lula insistirá em esvaziar a autoridade de Curitiba.

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